Título: Candidatura de Lúcio Alcântara contraria aliança de 20 anos entre Tasso e Ciro
Autor: Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Valor Econômico, 04/04/2006, Política, p. A10

A decisão do governador do Ceará, Lúcio Alcântara (PSDB), de permanecer no cargo depois do prazo de desincompatibilização contrariou os interesses da aliança de 20 anos entre o presidente nacional da sigla, senador Tasso Jereissati, e o ex-ministro da Integração Nacional Ciro Gomes (PSB). Tasso e Ciro trabalhavam por uma coligação afastando as candidaturas a governador de Cid Gomes (PSB), irmão do ex-ministro, e do próprio Lúcio. Para isso, a renúncia de Lúcio era fundamental, afastando o governador do páreo da reeleição e direcionando-o para a disputa do Senado. Depois de se reunir com Tasso e Ciro na noite de quinta-feira, Lúcio anunciou na sexta-feira que decidiu ficar no cargo, irritando a ambos os caciques. Ontem, Tasso dava demonstrações de, a contragosto, admitir a hipótese de apoiar a reeleição de Lúcio Alcântara. "O apoio a Cid Gomes seria uma loucura. A candidatura natural do PSDB é a do governador Lúcio Alcântara", afirmou Tasso, descartando, sem ênfase, a possibilidade de se candidatar. "Eu não sou candidato ao governo. Defendo novos valores, mas não quero, sozinho, tomar esta decisão", afirmou, conforme noticiou a Agência Nordeste. Em declarações anteriores, Ciro Gomes afirmara que a única possibilidade de apoiar um tucano para o governo estadual era se Tasso, que já governou o Ceará por três mandatos, se apresentasse novamente para a disputa. Nas últimas duas eleições, Ciro e Tasso estavam em palanques presidenciais diferentes, mas unidos no Estado. Mas em 1998 e 2002, o próprio Ciro era o candidato a presidente, o que fez com que os candidatos tucanos à Presidência, Fernando Henrique Cardoso e José Serra, tivessem no Ceará votação muito abaixo da média nacional, apesar do apoio formal de Tasso. Desta vez, Ciro irá apoiar a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Tasso, o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB). E pela primeira vez desde 1982, nem Tasso e nem Ciro, a princípio, devem ser candidatos a qualquer cargo majoritário no Estado. O senador tem mais quatro anos de mandato e o ex-ministro é oficialmente candidato a uma cadeira na Câmara dos Deputados. Estas circunstâncias fazem com que a aliança entre Tasso e Ciro no plano local fique mais frágil do que nunca. O grupo governista deve se dividir entre as candidaturas de Lúcio e Cid Gomes, enquanto o PT deve apresentar mais uma vez José Airton Cirilo como candidato a governador, da mesma forma que fez em 1998 - quando Cirilo teve desempenho pífio- e em 2002, quando o petista surpreendeu e perdeu a eleição para Lúcio por apenas 3 mil votos de diferença. Ontem, Tasso fez alusões ao mal desempenho de Lúcio Alcântara em 2002. "Talvez tenha feito do ponto de vista físico o maior esforço que já fiz em uma campanha para eleger Lúcio Alcântara. Maior até do que nas minhas campanhas para governador de Estado", disse. Tradicional segunda força no Estado, o PMDB tenta se compor com os demais grupos para garantir a candidatura ao Senado do deputado e ex-ministro das Comunicações, Eunício Oliveira.