Título: Para Abrapp, relatório não prova relação entre fundos e valerioduto
Autor: Thiago Vitale Jayme
Fonte: Valor Econômico, 04/04/2006, Política, p. A11

A Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência. Complementar (Abrapp) não poupou críticas ao relatório final da CPI dos Correios, divulgado na semana passada. Segundo Fernando Pimentel, presidente da associação, o documento não conseguiu provar a relação entre os fundos de pensão e o valerioduto, tem uma série de contradições na metodologia para apurar prejuízos e ainda recomendou o indiciamento de gestores de fundações e que se apresentaram voluntariamente para esclarecer os investimentos dos fundos. A avaliação da Abrapp é que há uma série de contradições em como o relator da CPI percebe o funcionamento do sistema de fundos de pensão e as conclusões que chega. "Parece que o relatório foi montado a partir de um predeterminismo que desconsidera fatos e provas", afirma Pimentel. Segundo ele, percebe-se que o relator conhece o mercado de fundos de pensão e o que é preciso para aperfeiçoá-lo, quando ele cita, por exemplo, a criação da Previc, a agência que regularia o setor. Ao mesmo tempo, a metodologia para apurar perdas é equivocada, quando o relatório diz para computar apenas os ajustes negativos das operações com derivativos. O relatório recomendou o indiciamento de 49 executivos de 12 fundos de pensão, incluindo a Funcef (da Caixa Econômica Federal) Postalis (dos Correios) e Real Grandeza (de Furnas). Segundo Pimentel, em muitos casos, as próprias fundações não foram convocadas, mas se ofereceram para prestar esclarecimentos. "O gestor entrou para esclarecer e saiu indiciado?", pergunta Pimentel. Sem citar nomes, ele diz que o documento "não tem uma linha" para justificar boa parte dos indiciamentos. "Esperamos que isto seja revisto e as injustiças reparadas." As decisões de investimentos dos fundos de pensão são tomadas, ressalta Pimentel, por comitês de investimento, contando sempre com um colegiado. "Jamais depende de apenas uma pessoa", destaca. Outro problema do relatório, segundo a Abrapp, é que o documento tira conclusões a partir de generalizações. O episódio do Banco Santos é um dos exemplos. Ao todo, 33 fundos de pensão perderam R$ 370 milhões com a falência do banco. Número muito menor que o R$ 1 bilhão perdido pelas 1,05 mil empresas que aplicaram na instituição e o R$ 1,2 bilhão das 577 instituições financeiras, nacionais e estrangeiras. "Pelo relatório, parece que os fundos foram os únicos que perderam", diz Pimentel. No caso da compra de títulos do BMG e do Banco Rural acontece o mesmo. "Foi um momento em que todo mercado buscava papéis de bancos médios em geral, que ofereciam retorno maior".