Título: PMDB será o fiel da balança na CPI dos Correios
Autor: Thiago Vitale Jayme
Fonte: Valor Econômico, 04/04/2006, Política, p. A11

Em meio ao processo de articulações e negociações sobre o relatório final lido na terça-feira, a CPI dos Correios vai usar toda a sessão de hoje para debater o texto do relator Osmar Serraglio (PMDB-PR). As chances de haver alguma votação do documento são remotíssimas. Oposição e governo apostam em um dia de discussões sobre pontos divergentes do texto. Embora os últimos acertos estejam em negociação, já há uma divisão clara: o Palácio do Planalto trabalhará para derrubar o relatório enquanto PSDB e PFL deixarão de lado suas reivindicações para defender o documento feito por Serraglio e aprová-lo. A disputa pelos votos da CPI foi travada durante todo o fim de semana, continuou na noite de ontem e prosseguirá até amanhã, quando o relatório poderá ser efetivamente votado. "Acho que temos uma possibilidade maior, hoje, de aprovar o relatório", afirma o deputado e sub-relator de Fundos de Pensão da CPI, Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA). O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), está menos otimista, mas duvida que o governo consiga aprovar um texto alternativo ao de Serraglio. "Os governistas têm voto para derrubar o texto do relator, mas não conseguiriam aprovar um substitutivo. O mais inteligente seria aprovar o texto que está pronto", afirma. Outros integrantes da CPI, inclusive do PT, concordam com Virgílio. Sabem que alguns parlamentares aceitam a recusa ao texto de Serraglio, mas não aprovariam o relatório pretendido pelos petistas, sem indiciamentos dos principais expoentes do mensalão, com um perdão geral. O governo tem pequena vantagem sobre a oposição dentro da CPI. O PMDB deverá ser o fiel da balança. O PT parte para uma estratégia audaciosa. Tentará a todo custo derrubar o relatório de Serraglio. A começar pelos indiciamentos. A líder petista no Senado, Ideli Salvatti (SC), avisou qual será o tom do voto em separado a ser apresentado pela bancado do PT: a retirada de todos os indiciamentos principais, dentre os quais aqueles contra os ex-ministros José Dirceu e Luiz Gushiken, enquadrados nos crimes de corrupção ativa. Ideli quer também desconfigurar a existência do mensalão, comprovada por Serraglio. "Houve pagamentos ilegais e ilícitos, mas não há prova de que foram utilizados para financiar a troca de partido ou a compra de votos", diz a líder petista. Por fim, o PT vai tentar incluir no relatório a "Lista de Furnas", relação divulgada há quase dois meses segundo a qual diversos políticos do PSDB teriam recebido recursos da estatal. A Polícia Federal apontou indícios de falsificação na lista e Serraglio propôs o indiciamento dos dois falsificadores, ligados ao PT. O presidente da CPI, senador Delcídio Amaral (PT-MS), definiu que não haverá apresentação de emendas ao texto. Ou se apresenta um relatório novo em substituição ao de Serraglio (como fará o PT) ou se aprova o texto original. A única possibilidade de se fazer alterações pontuais será convencendo o relator a fazer mudanças, sem a formalidade da apresentação de emendas. As negociações têm sido feitas diretamente com Serraglio. Com tais regras estabelecidas, o PFL e o PSDB já dão sinais de que não se apegarão a suas reivindicações. "Quero tentar convencer Serraglio a recolocar o caso do filho do presidente Lula. Mas, se não conseguir, vamos trabalhar para aprovar o relatório", diz ACM Neto. Ele faz referência ao contrato de R$ 5 milhões da Telemar com a Gamecorp, empresa de Fábio Luís Lula da Silva, filho de presidente. O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), pensa da mesma forma. "O importante é aprovarmos o relatório, que já é bom. Um desastre seria não termos relatório, como quer o governo", afirma. O tucano afirma já ter conversado com Serraglio sobre o caso do senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG), supostamente beneficiado pelo valerioduto em 1998. "O crime já prescreveu e não há sentido em colocar o Azeredo no texto só por colocar", argumenta Virgílio.