Título: Crise eleva venda externa de peça bruta
Autor: Sérgio Bueno
Fonte: Valor Econômico, 04/04/2006, Especial, p. A16

Além de amargar a queda no valor global das exportações, as empresas gaúchas do setor de pedras preciosas começam a mudar para pior o perfil das vendas ao exterior, na tentativa de escapar da combinação entre custos em reais em alta e faturamento em dólares em baixa. A manobra consiste no aumento dos embarques de produtos em bruto ou nos estágios de beneficiamento anteriores à lapidação, como os materiais serrados ou "martelados", que exigem menos tempo e capital de giro para preparação e comercialização, mas têm menor valor agregado. Hélio Lodi, da Lodi Pedras Preciosas: "Se continuar assim, no futuro seremos exportadores de matérias-primas, que têm valor agregado cem vezes menor". Em 2005, as pedras lapidadas ou de artefatos ainda representaram 73% das exportações totais do Estado, de US$ 50,4 milhões, mas a tendência é de queda, acredita o empresário Hélio Lodi, da Lodi Pedras Preciosas, uma das maiores do setor. "Se continuar assim, no futuro seremos exportadores de matérias-primas, que têm valor agregado até cem vezes menos do que o produto lapidado", prevê. Segundo ele, enquanto a ágata em bruto vale US$ 0,50 o quilo, a pedra lapidada pode alcançar US$ 50. Segundo o empresário, 95% das vendas da Lodi são para o mercado externo, principalmente para China, Taiwan, Estados Unidos, Japão, França, Alemanha, Itália e Suíça. Há dois anos, apenas 30% dos produtos eram exportados em bruto, como eram recebidos do garimpo, mas agora esse percentual subiu para 50%. "Foi a saída que encontrei para manter as portas abertas", explica. A alternativa, porém, teve seu preço. O faturamento, que em 2005 empatou em dólares com 2004, na faixa dos US$ 10 milhões, deve cair este ano para US$ 7 milhões. O número de funcionários, que chegou a 150 pessoas há dois anos, já recuou para 95 e deve diminuir ainda mais. "Fechamos as filiais de compras em Salto do Jacuí (RS) e em Minas Gerais e estamos desativando a fábrica de Ametista do Sul (RS), onde trabalham 12 pessoas." Com 35 anos de mercado, o empresário Valdemar Piovesan, da Lepege Mineração, desistiu de industrializar as pedras há um ano e meio e agora opera apenas no atacado. Com matriz em Soledade e filiais no Rio de Janeiro e em São Paulo, ele ainda destina 20% das vendas para o mercado interno, "o que está salvando um pouco a situação". Segundo ele, porém, mesmo as vendas domésticas andam em marcha lenta, porque os revendedores não conseguem arcar com os custos do capital de giro e dos estoques e os consumidores não têm renda disponível para deslanchar as vendas. Já no mercado externo, além da baixa rentabilidade, o excesso de oferta impede a aplicação de reajustes nos preços, explica Piovesan. Como resultado, 2005 foi um "ano terrível" e as exportações caíram 15% em valor na comparação com 2004, afirma. "Estamos enfrentando nossa maior crise e tudo indica que 2006 será ainda pior."(SB)