Título: Setor investe em tecnologia e integração
Autor: Sérgio Bueno
Fonte: Valor Econômico, 04/04/2006, Especial, p. A16

Refém do câmbio e da excessiva participação das exportações sobre as vendas totais, o setor de pedras preciosas do Rio Grande do Sul está em busca de processos e produtos mais sofisticados e de maior valor agregado, quer ampliar a integração com outros segmentos da cadeia produtiva e as oportunidades no mercado interno e reduzir os níveis de impacto ambiental das atividades de mineração e beneficiamento. As esperanças estão voltadas para a implantação de uma rede de desenvolvimento tecnológico em parceria com o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) e quatro universidades gaúchas. "Usamos técnicas de 20 anos atrás", diz Jaqueline Mallmann, secretária-executiva do Sindipedras. De acordo com ela, o Centro Tecnológico de Pedras, Gemas e Jóias do Rio Grande do Sul vai trabalhar no treinamento da mão-de-obra local, no desenvolvimento de novas técnicas de extração, beneficiamento e transformação das matérias-primas em objetos de maior valor agregado, com a integração de outros materiais e insumos, como madeira, metal e acrílico. "Hoje conseguimos tingir a ágata com cinco ou seis cores, mas poderíamos ampliar para 15 ou 16." Segundo o coordenador do centro, Carlos Artur Hauschild, professor da Universidade de Passo Fundo (UPF), a rede será inaugurada em maio e terá "braços" especializados em mineração em Ametista do Sul, em lapidação (Lajeado), em artefatos e artesanato (Soledade) e em joalheria (Guaporé). Em cada uma dessas cidades haverá o apoio de uma universidade: além da própria UPF, participam do projeto a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a Universidade de Caxias do Sul (UCS) e a Univates, de Lajeado. O projeto foi proposto pelo setor há um ano e meio e desde então o MCT já liberou R$ 650 mil para obras físicas e desenvolvimento de pesquisas, explica Hauschild. Outros R$ 130 mil foram repassados pelas prefeituras de Soledade e Lajeado, garantindo autonomia para a estrutura pelo menos até 2008. "Mas as unidades são autônomas para buscar novas fontes de financiamento", relata o coordenador. Segundo Jaqueline, um dos objetivos do centro será ampliar a integração entre as indústrias de pedras da região de Soledade e de jóias de Guaporé, onde está um dos maiores pólos empresariais do segmento no país. O plano inclui a criação de um certificado de qualidade para atestar a origem e valorizar as matérias-primas locais. "Agregando nossas pedras às jóias produzidas no Rio Grande do Sul, conseguiremos abrir grande oportunidade para aumentar as vendas no mercado interno", diz o presidente do Sindipedras, Ivanir Lodi. A redução de desperdícios é outro objetivo, já que os "retalhos" das pedras beneficiadas dificilmente são aproveitados, por falta de tecnologia. "Para fazer uma bola de 250 gramas é preciso um quilo de ágata; o resto se perde", revela o empresário Hélio Lodi. O centro também ficará encarregado de desenvolver técnicas de produção que reduzam o impacto das atividades de mineração e beneficiamento sobre o ambiente e a saúde dos trabalhadores. De acordo com Jaqueline, é grande a incidência de casos de silicose (fibrose pulmonar causada pela inalação de partículas minerais) no setor, e por isso é necessário buscar maior eficiência no controle do problema. A UFRGS aperfeiçoa uma técnica de extração com jatos de água ao invés da detonação de explosivos, o que impede a liberação de pó nas minas, conta Hauschild. Na questão ambiental, a prioridade será melhorar os processos de recuperação de áreas degradadas pela mineração e diminuir a liberação de efluentes líquidos e sólidos durante o processo de beneficiamento das pedras. Conforme o geólogo Ricardo Pessoa, da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam), o setor pode desenvolver melhores técnicas de fixação do solo e de restabelecimento da vegetação nativa nas áreas exploradas. O procedimento de licenciamento dos empreendimentos pode ser aperfeiçoado, porque hoje cerca de 10% dos pedidos encaminhados pelas empresas à Fepam são indeferidos por "deficiência de informações", afirma Pessoa. (SB)