Título: Mais analistas já prevêem alta de 4% do PIB
Autor: Sergio Lamucci
Fonte: Valor Econômico, 25/04/2006, Brasil, p. A3

O bom desempenho da economia no primeiro trimestre e as perspectivas positivas para a demanda interna, levaram um número maior de analistas a projetar crescimento de 4% para o Produto Interno Bruto (PIB) em 2006. A avaliação é que a queda dos juros, o aumento da massa de salários e a elevação dos gastos públicos devem dar um fôlego expressivo ao mercado interno neste ano.

O professor Caio Prates, do grupo de conjuntura da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), acabou de revisar sua previsão de crescimento de 3,8% para 4%, amparado na expectativa favorável para a demanda doméstica. Já o setor externo, ao contrário do que ocorre desde 2001, deve contribuir negativamente para a expansão do PIB, uma vez que as importações tendem a crescer bem mais que as exportações.

O resultado da produção industrial em janeiro e fevereiro foi bastante animador, levando os economistas a prever crescimento robusto do PIB no primeiro trimestre. Bráulio Borges, da LCA Consultores, estima expansão do PIB de 1,3% em relação ao trimestre anterior, na série livre de influências sazonais, o que deve reverter em grande parte o efeito negativo da baixa "herança estatística" (o "carry over", no jargão econômico) de 2005 para 2006, de apenas 0,5 ponto percentual.

Uma herança de 0,5 ponto significa que, se a economia não crescer nada em relação ao nível do fim do ano passado, o PIB terá expansão de 0,5% em 2006. Essa questão estatística é que levava muitos analistas a prever crescimento de no máximo 3,5% neste ano. Com uma expansão forte no primeiro trimestre, que eleve bastante o patamar do PIB, esse problema seria relativizado. A LCA revisou de 3,5% para 3,8% a expansão para o PIB de 2006.

O diferencial de 2006 em termos de atividade deve ser realmente o comportamento do mercado interno. O economista-chefe da corretora Convenção, Fernando Montero, diz que há uma "combinação importante e incomum" neste ano: todos os componentes da demanda doméstica (consumo das famílias, consumo do governo, investimento e variação de estoques) vão estimular a atividade econômica, ao mesmo tempo em que não há restrições de oferta. "O ano de 2006 combina choques de oferta e de demanda positivos, o que significa crescimento sem inflação", resume ele, que aposta num avanço de 4% do PIB.

O investimento começou 2006 com força, como deixam claros os números da construção civil e do consumo aparente de máquinas e equipamentos (a soma da produção local e das importações de bens de capital, excluindo as exportações). Em janeiro e fevereiro, a produção de insumos para a construção civil cresceu 7% na comparação com o mesmo período de 2005, e o consumo aparente de máquinas e equipamentos, 16,8%, lembra Montero.

As perspectivas para o consumo das famílias, que equivale a cerca de 60% do PIB, também são positivas. A massa salarial deve crescer 5% acima da inflação neste ano, empurrada pelo forte aumento do salário mínimo e pela expectativa de que os reajustes salariais superem os índices de preços.

O crédito também deve aumentar a um ritmo razoável neste ano, estimulando a venda de bens duráveis, como automóveis e eletroeletrônicos, vendidos em grande parte a prazo. O economista-chefe da Mandarim Gestão de Ativos, Eduardo Velho, calcula que a produção desses bens cresceu 21,6% desde setembro, na série livre de influências sazonais.

Para Prates, o principal impulso para economia neste ano virá sem dúvida da redução dos juros. O mercado prevê que a taxa Selic, hoje em 15,75% ao ano, deve atingir 14% em dezembro. "O aumento da massa salarial, a expansão do crédito e a política fiscal também vão ajudar", afirma Prates. "Outra boa notícia é que não há restrição de oferta, como mostram os números da Confederação Nacional da Indústria (CNI) sobre o nível de capacidade instalada."

Velho diz que os efeitos defasados do tombo da Selic - a taxa começou a cair em setembro passado - serão sentidos principalmente no segundo trimestre. "Com isso, o mercado vai revisar gradativamente para cima a expectativa de crescimento do PIB para a casa de 4%", avalia ele.

Montero lembra que o aumento dos gastos públicos deve dar um empurrão ao crescimento em 2006. Em janeiro e fevereiro, as despesas não-financeiras do governo federal cresceram 10,9% acima da inflação, indicando a disposição de acelerar gastos, típica de um ano eleitoral.

Nas contas de Borges, a demanda doméstica deve dar uma contribuição de 4,3 pontos percentuais para o crescimento neste ano - a maior desde os 4,6 pontos de 2000. Para ele, a expansão do PIB em 2006 deve ser de 3,8%, já que o setor externo deve ter colaboração negativa de 0,5 ponto.

Na avaliação da LCA, o volume de exportações deve aumentar 7,5% neste ano, bem abaixo dos 13,7% previstos para as importações. O câmbio valorizado e o crescimento mais forte do mercado interno explicam esses números, que não devem impedir, no entanto, um saldo comercial de US$ 40 bilhões. "O desempenho da demanda doméstica será realmente forte, superando os 3,8 pontos de 2004", compara Borges, referindo-se ao ano em que o PIB cresceu 4,9%.