Título: Embaixador brasileiro acredita em acordo na OMC
Autor: Assis Moreira
Fonte: Valor Econômico, 25/04/2006, Brasil, p. A4

O embaixador do Brasil na Organização Mundial do Comércio (OMC), Clodoaldo Hugueney, passa o tempo em reuniões em Genebra. E apesar do novo fiasco sacramentado ontem na Rodada Doha, o que ele diz ter ouvido de outros parceiros o levam a crer na possibilidade de acordo sobre cortes de tarifas e subsídios agrícolas e industriais até meados do ano.

"Se eu repetisse para você o que já me disseram (sobre números e outras concessões), você não acreditaria", afirma o embaixador, referindo-se a sinalizações de flexibilidade nas posições de exportadores e importadores. Hugueney recusa dar exemplo, para não complicar a negociação, porém nota: "Não minimizamos as dificuldades, mas há espaço para avançar e as negociações não estão paralisadas."

A questão é qual o momento e o custo para cada um colocar novas concessões na mesa. A União Européia, por exemplo, acena com redução adicional de 5% nos subsídios agrícolas que mais distorcem o comércio. Com isso, aceitaria um corte de 75%, comparado à oferta anterior, de 70%. Bastou essa possibilidade ser divulgada para a França reclamar em Bruxelas. Os negociadores europeus explicaram então que foi uma idéia para "testar as águas" e mostrar que a União Européia está pronta a reagir se os parceiros fizerem concessões.

Ontem, o diretor-geral da OMC, Pascal Lamy, reconheceu diante dos 149 países-membros que o prazo deste fim do mês para chegar a um acordo está definitivamente perdido, mas que a boa notícia é "que a negociação não está bloqueada".

Como o Valor antecipou ontem, Lamy quer agora acelerar as negociações nas próximas seis semanas para definir as modalidades do acordo "antes da Copa do Mundo", que começa dia 9 de junho. A razão é que ninguém depois vai realmente se concentrar em tarifa, caixa verde, ajuda alimentar, pelo menos até o fim da Copa na Alemanha. "Esperar (para fazer acordo) até 31 de julho será tarde mais", disse Lamy.

O prazo de antes da Copa é levado a sério, mas alimenta sonhos. O embaixador dos Estados Unidos, Peter Allgeier, disse, bem-humorado, na reunião, que gostaria de terminar a rodada "antes que os Estados Unidos ganhem a Copa do Mundo". No mesmo tom, Lamy apontou essa possibilidade "na Copa do Mundo de futebol das mulheres", esporte em que os Estados Unidos já são os melhores.

Se houver avanço nas discussões técnicas até o começo de junho na OMC, poderá ser convocada uma reunião ministerial para as barganhas finais. Os ministros é que vão definir as cifras de cortes das tarifas e dos subsídios, além de disciplinas sobre subsídios, por exemplo.