Título: Aproximação com PMDB esbarra na relutância petista em ceder espaço
Autor: César Felício
Fonte: Valor Econômico, 25/04/2006, Política, p. A5

Faltam padrinhos, no PT e, principalmente, no Palácio do Planalto, às negociações que abririam espaço, numa chapa aliada, ao ex-governador Orestes Quércia (PMDB), em São Paulo, com vistas a atrair o partido à base de sustentação de um eventual segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O pressuposto dessa aliança é de que, sendo a disputa pelo governo do Estado liderada com folgado favoritismo pelo ex-prefeito José Serra (PSDB), ao partido do presidente caberia alavancar, a partir de Sâo Paulo, uma aliança que comprometeria o PMDB com a disputa nacional.

O principal negociador dessa aproximação tem sido o presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB). A resistência petista a uma aliança que inclua Quércia fomentou as especulações em torno de uma chapa que unindo PCdoB, PSB e PMDB em São Paulo, tendo Aldo e o ex-governador como candidatos ao Palácio dos Bandeirantes e ao Senado.

O que tem prejudicado as negociações, é que, não apenas o senador Aloizio Mercadante (PT-SP) mas também a ex-prefeita Marta Suplicy (PT) relutam em assumir uma negociação que afaste o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) da disputa por sua reeleição.

Além disso, Lula mantém-se longe da articulação, tocada apenas por quercistas e comunistas. O presidente tem manifestado a crença de que receberá apoios sem custo político a partir do momento em que consolidar seu favoritismo para reeleger-se. A estratégia do presidente desagrada aos aliados não-petistas do governo, que enxergam risco de isolamento.

Com a crise política que cassou o mandato do ex-deputado José Dirceu e obrigou Lula a demitir o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, o PT está sem uma liderança que possa impor sacrifícios ao partido na construção de alianças com PMDB, PSB, PC do B e outras forças que o apóiam. O atual presidente da sigla, o deputado Ricardo Berzoini (SP) , o secretário-geral da Presidência, Luiz Dulci, e o ministro de Assuntos Institucionais, Tarso Genro, não possuem a mesma força que Dirceu e Palocci.

O resultado é que foi abandonado o plano traçado pela antiga cúpula petista de ter candidaturas próprias a governos estaduais apenas em um reduzido grupo de Estados, cedendo espaços para aliados mesmo em Estados-chave da federação.

A principal intenção da nova chapa PC do B/ PMDB seria forçar a realização de um segundo turno na eleição para o governo de São Paulo, que hoje, segundo as pesquisas de intenção de voto, seriam definidas em primeiro turno a favor do ex-prefeito paulistano José Serra (PSDB). O tucano oscila nas pesquisas entre 50% e 60% do total. A aliança tem como objetivo também brecar a aproximação entre tucanos e pemedebistas.

Quércia só admite disputar o governo do Estado se o PMDB tiver um candidato presidencial que não seja o ex-governador do Rio, Anthony Garotinho (RJ), hipótese hoje pouco provável. Se o PMDB escolher Garotinho ou ficar sem candidato a presidente, Quércia teria preferência por uma candidatura ao Senado, vinculada a um dos dois pólos da disputa presidencial, o tucano e o petista.

A forte posição do senador Eduardo Suplicy (PT-SP) nas pesquisas de intenção de voto inibe os petistas a articularem a sua saída da disputa para abrir caminho para Quércia. Suplicy obtém quase o triplo das preferências dadas ao pemedebista. Já o PSDB teria menos resistências em ceder espaço para os pemedebistas. A candidatura de Aldo seria um modo de dar mais uma alternativa para o ex-governador.

Aldo Rebelo mostra disposição em concorrer a um cargo majoritário, mesmo sabendo que suas chances de vitória são ínfimas. A perspectiva de tornar-se apenas um ex-deputado em 2007 não o incomoda.

Aldo tem dito que, se a candidatura vingar, em nenhum momento tentaria disputar o eleitorado de esquerda com os candidatos petistas. Acredita poder captar uma parcela do eleitorado de classe média que rejeita o PSDB, mas tem resistências em votar no PT. A condição do PMDB não ter candidato próprio é essencial para uma candidatura majoritária de Aldo.