Título: Rússia levanta o embargo a carnes do Rio Grande do Sul
Autor: Alda do Amaral Rocha e Sérgio Bueno
Fonte: Valor Econômico, 04/04/2006, Agronegócios, p. B13

Na véspera da chegada do primeiro-ministro russo Mikhail Fradkov ao Brasil, a Rússia informou que a partir de hoje está suspenso o embargo às carnes bovina e suína produzidas no Estado do Rio Grande do Sul. O embargo foi imposto em 9 de dezembro passado após focos de aftosa no Mato Grosso do Sul e do Paraná. Rogerio Pallatta/Valor Contudo, sete Estados - os dois que registraram a doença, mais São Paulo, Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais e Santa Catarina - seguem proibidos de exportar à Rússia. Num comunicado enviado à Secretaria de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, o Serviço de Supervisão Fitosanitária e Veterinária da Rússia informa, que a partir de 4 de abril está retirado o embargo para mercadoria do Rio Grande do Sul. A medida foi considerada "insuficiente" pelo presidente da Abipecs - Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne Suína -, Pedro de Camargo Neto. Segundo ele, a abertura do Rio Grande do Sul foi uma "medida paliativa" por conta da vinda do ministro. Ele teme que não haja nenhum avanço durante a visita. A expectativa era que o premiê anunciasse a retirada do embargo ao Rio Grande do Sul e à Santa Catarina, pelo menos. "O Rio Grande do Sul não deveria nem ter sido fechado", afirmou Camargo Neto. Ele criticou a Rússia por "não respeitar acordos internacionais de sanidade animal" e disse que o governo brasileiro, "que apoiou a entrada da Rússia na Organização Mundial do Comércio (OMC)", deveria cobrar a suspensão do embargo de outros Estados. O setor de carne suína é o mais afetado pelo embargo da Rússia, já que o país responde por quase 70% das exportações brasileiras. Os estragos já surgem: em fevereiro, as vendas caíram 12,68%, para 37.591 toneladas. A receita recuou 14,62%, para US$ 68,4 milhões. A expectativa é de que a queda atinja 40% em março, segundo a Abipecs. O diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne Bovina (Abiec), Antônio Camardelli, avaliou que o fim do embargo ao Rio Grande do Sul é um sinal de que a Rússia irá tratar a questão com base em critérios técnicos. Pelo acordo entre Brasil e Rússia, no caso de surgimento de aftosa, a área atingida fica dois anos sem exportar e as limítrofes, um ano. O diretor executivo do Sindicato das Indústrias de Produtos Suínos do Rio Grande do Sul (Sips), Rogério Kerber, disse que a "grande preocupação" do setor agora é convencer as autoridades russas a aceitarem a carne produzida durante o embargo. "Vamos continuar as gestões para demonstrar que a produção estocada tem toda a segurança sanitária", afirmou. Desde o início de dezembro, 56 países embargaram as importações de carne gaúcha e neste intervalo 60 mil toneladas do produto foram estocadas pelas indústrias, explica Kerber. Caso não seja possível vender a produção acumulada para os russos, Kerber prevê "algumas dificuldades" em redirecionar os estoques. "Os outros países continuam limitados", afirma. Na avaliação de Jerry O'Callaghan, diretor de carnes da Coimex, a Rússia deve permitir que outros Estados brasileiros voltem a a exportar porque há retração de de oferta por parte da Argentina, onde o governo ampliou ainda mais as restrições às exportações de carne bovina semana passada.