Título: Argentina propõe controle de expectativa inflacionária
Autor: Ricardo Balthazar
Fonte: Valor Econômico, 04/04/2006, Finanças, p. C3

A ministra da Economia argentina, Felisa Miceli, defendeu ontem a adoção de controles de preços como um mecanismo eficiente na coordenação das expectativas do mercado sobre a inflação e necessário para evitar que aumentos temporários nos preços de algumas mercadorias se propaguem pela economia. AP Photo/Silvia Izquierdo "Eles são parte de uma estratégia avançada de uma administração racional e séria da política econômica", afirmou a ministra, numa reunião com investidores durante a reunião anual do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). "Esses acordos são importantes para que os agentes não interpretem como permanentes efeitos inflacionários que são transitórios." A inflação argentina atingiu 12,3% no ano passado e o governo tem enfrentado dificuldades crescentes para contê-la, num momento de intensa recuperação da atividade econômica. Os altos preços de algumas mercadorias no mercado internacional, a desvalorização do peso em relação ao dólar e o recente aumento dos gastos do governo provocaram a volta da inflação. O governo tem negociado com indústrias e varejistas acordos setoriais para conter os preços por algum tempo, mas os críticos da política econômica do presidente Néstor Kirchner acham que essas medidas tendem a produzir poucos resultados no curto prazo e podem afugentar investimentos que seriam importantes para o crescimento do país a longo prazo. Felisa Miceli fez uma defesa enfática do rumo adotado pela Argentina nos anos que se seguiram à dramática crise deflagrada em 2001, quando o país parou de pagar sua dívida externa. "Estamos conscientes de que as medidas adotadas nos últimos anos não gozam de consenso, mas o que teria sido de nosso país se tivéssemos repetido as políticas ortodoxas do passado?" A ministra argentina reafirmou a disposição do governo de continuar ignorando os credores que não aceitaram participar da renegociação da dívida externa concluída há um ano, quando os papéis que micaram em 2001 foram trocados por novos títulos com enormes perdas para os investidores. Ela lembrou que uma lei aprovada pelo Congresso impede o governo argentino de reabrir a negociação. (RB)