Título: Produção cresce 1,2% em fevereiro
Autor: Vera Saavedra Durão, Francisco Góes, Raquel Salgad
Fonte: Valor Econômico, 05/04/2006, Brasil, p. A3

Em fevereiro, a indústria brasileira retomou o crescimento e expandiu a produção em 1,2% na comparação com janeiro, quando teve queda de 1,3%. Esta expansão foi sustentada basicamente pela indústria de transformação, que avançou 1,7% em fevereiro no dado com ajuste sazonal, enquanto a extrativa mineral teve queda de 0,4% no segundo mês do ano. Os números divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam taxas positivas em todas as bases de comparação da produção industrial. Houve avanço de 5,4% em relação a igual mês do ano passado, de 4,2% no primeiro bimestre e de 3% na taxa em doze meses, que estava em queda desde março de 2005. "A taxa de doze meses inverteu ligeiramente sua trajetória de declínio e está indicando uma nova fase de crescimento", interpretou Sílvio Sales, coordenador da área de indústria do IBGE. Com exceção da produção de insumos para a indústria, que caiu 0,6% - influenciada pela retração da indústria extrativa mineral e pelo processo de substituição de importações em decorrência da valorização cambial -, a retomada da atividade das fábricas foi puxada por bens de consumo. Os bens duráveis cresceram 6% e os não duráveis 1,7%. Já os bens de capital registraram expansão de 1,5%, outro resultado expressivo e que confirma a recuperação do investimento no setor produtivo. A produção de bens intermediários também foi impactada negativamente pela interrupção do alto-forno 3 da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), que está importando 1 milhão de toneladas de placas de aço para manter sua produção de laminados e bobinas. Para Sales, os números da indústria de fevereiro são significativos e apontam para uma mudança no padrão de crescimento, agora mais vinculado ao mercado interno do que às exportações. Essa alteração teria como pano de fundo a redução dos juros, o aumento da oferta de crédito, a melhoria do mercado de trabalho com conseqüente elevação da renda e da massa salarial dos trabalhadores. A recuperação do mercado interno seria reforçada pelo aquecimento da construção civil, que desde dezembro cresce quase 7% ao mês na comparação com o mesmo período do ano anterior. Em fevereiro, a produção de insumos para a construção cresceu 6,8%. No bimestre, acumulou 7%. Nesse cenário favorável, consultores e economistas do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) antevêem uma aceleração do crescimento da indústria. Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, projeta crescimento de 1,5% para a indústria em março em relação a fevereiro. "Não tenho dados com ajuste sazonal da indústria no primeiro trimestre, mas, num cálculo preliminar, avalio que cresça 1,4%". Já o Ipea mantém as projeções feitas no boletim de março em que estima crescimento de 1,5% para a produção industrial no primeiro trimestre ante o último trimestre de 2005. Para o PIB, a previsão para o mesmo período é de uma alta de 1,1% na comparação com ajuste sazonal. Para Estevão Kopschitz, do Ipea, este número é plausível, considerando que, em uma conta grosseira, a indústria cresceu 1,2% no primeiro bimestre do ano. O economista acredita ainda que a previsão de 4% para o crescimento da indústria no primeiro trimestre ante o mesmo período de 2005 também não é descartável, já que no bimestre a alta ficou em 4,2% nesta base de comparação. O instituto mantém sua projeção de alta do PIB em 3,4%. Eduardo Velho, economista-chefe da Mandarim Gestão de Ativos, aposta que o movimento de expansão da indústria será mais intenso no segundo trimestre por conta de estoques mais ajustados, impactos mais fortes da queda do juro sobre a atividade econômica, taxa média de inflação mais baixa e reflexos do novo mínimo sobre as vendas e a produção industrial. O binômio renda e queda de juros está ajudando o desempenho do setor automobilístico. As vendas de automóveis no primeiro trimestre cresceram 13,5%, segundo dados da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), antecipados na edição de ontem pelo Valor. (VSD)