Título: Indústria fecha trimestre com forte alta
Autor: Vera Saavedra Durão, Francisco Góes, Raquel Salgad
Fonte: Valor Econômico, 05/04/2006, Brasil, p. A3

A indústria acelerou o ritmo de produção em março e vai encerrar o primeiro trimestre com resultados, em muitos setores, superiores aos previstos no começo do ano. Em 2006 - ao contrário dos dois últimos anos - é a demanda interna que está aquecendo os negócios. Diferentes segmentos relatam altas próximas a 10% no volume comercializado de janeiro a março deste ano em relação ao mesmo período do ano passado. O setor petroquímico registrou aumento superior a 10% no volume de venda de resinas plásticas para o mercado doméstico no primeiro trimestre do ano em relação ao último trimestre de 2005, segundo José Ricardo Roriz Coelho, superintendente da Suzano Petroquímica e presidente do Sindicato das Indústrias Petroquímicas do Estado de São Paulo. "Esse desempenho superou nossas expectativas. Projetamos um crescimento entre 7% a 10% em nossas vendas em 2006, mais voltadas para o mercado interno", diz Coelho. Ele atribuiu parte desse aumento a um movimento de recuperação de estoques em janeiro. Em fevereiro, o setor sentiu uma melhora nos pedidos, com os clientes colocando encomendas 30 a 40 dias à frente, contra 15 dias no ano passado. Os 15 primeiros dias de março foram muito bons, segundo Coelho, mas no fim do mês ocorreu uma desacelerada devido ao anúncio de um aumento médio entre 8% a 12% nos produtos petroquímicos a partir de abril. O reajuste decorreu da alta da nafta (matéria-prima dos termoplásticos) - de US$ 517 para US$ 540 por tonelada (base ARA internacional) em função do petróleo. O Sistema Usiminas (Usiminas e Cosipa) vendeu no primeiro trimestre do ano, nos mercados interno e externo, 1,9 milhão de toneladas de aço plano, um crescimento de 11% na comparação com igual período de 2005. Apenas em março, o volume comercializado somou 750 mil toneladas, 8% acima do ocorrido em março de 2005, informou ao Valor o presidente da Usiminas, Rinaldo Soares. O setor automotivo vem respondendo por grande parte da demanda por aço nesses três primeiros meses, destacou Soares. Com a redução dos estoques de aço, que segundo o Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço (INDA) já estão quase normalizados em 2,1 meses de vendas, a expectativa é de um incremento mais forte das vendas no segundo trimestre. As vendas de produtos siderúrgicos planos pela rede de distribuição cresceram entre 8% e 9% no primeiro trimestre na comparação com igual período do ano passado, estima Carlos Loureiro, presidente da Rio Negro Comércio e Indústria de Aço, empresa do sistema Usiminas. Em março, as vendas da rede, que funciona como um canal de abastecimento para os consumidores, aumentaram entre 20% e 22% na comparação com fevereiro, calculou Loureiro. "A rede de distribuição deve ter chegado ao fim de março com o menor estoque da história recente, suficiente para atender ao consumo de 1,8 mês", disse Loureiro. Ele afirmou que, no segundo trimestre de 2006, a rede distribuidora vai aumentar o volume de compra de aço para recompor os estoques, o que irá alavancar o faturamento das usinas siderúrgicas. A rede distribuidora de aços planos atende indústrias nos setores automotivo, de autopeças e de eletrodomésticos, entre outros. Loureiro estima, por sua vez, que no primeiro trimestre a entrega (faturamento) das usinas siderúrgicas tenha caído 15% em relação ao mesmo período de 2005. Ele lembrou que o período janeiro-março do ano passado registrou números altos em função do aquecimento do setor no fim de 2004. "Em 2006, as usinas e a rede de distribuição devem registrar crescimento de, no mínimo, 7% em termos de tonelagem vendida em relação ao ano passado", projetou. O primeiro trimestre também foi positivo para a Indústria São Roberto, que produz papelão ondulado. Depois de patinar em janeiro, a expedição do produto aumentou nos dois meses seguintes. Os números de março, ainda preliminares, mostraram crescimento de 3% a 4% em relação ao mesmo mês do ano passado, segundo Roberto Nicolau Jeha, presidente da São Roberto. Com isso, a expansão no primeiro trimestre ficou próxima de 6%, na comparação com janeiro a março de 2005. "As encomendas estão positivas, sinalizando um ano melhor para o setor", afirma Jeha. No ano passado, a expedição de papelão ondulado da empresa cresceu só 2,1%. A São Roberto não tem estoque de produtos acabados, apenas de matérias-primas, e ele deve estar ajustado no fim do mês. Jeha acredita que a queda dos juros e a notícia do aumento mais forte do salário mínimo estão impulsionando a atividade econômica. Por enquanto, a São Roberto não fez contratações. "Mas não demitimos e há perspectiva de contratação no segundo semestre", afirma Jeha. O setor eletroeletrônico apresentou resultados vigorosos no primeiro trimestre. A produção física, estima Maurício Loureiro, presidente do Centro da Indústria do Estado do Amazonas (Cieam), cresceu 12%. O faturamento das empresas da Zona Franca de Manaus, por sua vez, subiu nada menos do que 35% em janeiro, 15% em fevereiro e deve repetir o resultado deste mês em março. "E muitos magazines já estão fazendo grandes pedidos para o Dia das Mães e dos Namorados. Sem falar na Copa do Mundo", diz Loureiro. A expectativa é a de que nessas duas datas comemorativas o desempenho deste ano supere o de 2005. "A demanda por celulares continua muito forte. Além disso, com a melhora do poder aquisitivo dos brasileiros, o pólo fabricante de motos também tem crescido", afirma. Segundo ele, março já sinalizou que o ano será melhor.