Título: Câmbio faz importação de insumo crescer mais que a produção local
Autor: Raquel Landim
Fonte: Valor Econômico, 05/04/2006, Brasil, p. A4

O fraco desempenho da produção de bens intermediários em fevereiro é mais um sinal de que as indústrias brasileiras estão substituindo insumos nacionais por importados por conta da valorização do real. Magdalena Gutierrez/Valor Nos 12 meses encerrados em fevereiro, a produção doméstica de bens intermediários (insumos e matérias-primas para as indústrias) cresceu 0,9% sem ajuste sazonal, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Na mesma comparação, a importação de bens intermediários saltou 6,2%, segundo a Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex). Nos 12 meses acumulados em fevereiro, a indústria da transformação cresceu 2,5%. Em fevereiro, a produção de bens intermediários caiu 0,6% em relação a janeiro, na série livre de efeitos sazonais. Foi o único resultado negativo entre as categorias de uso medidas pelo IBGE. No primeiro bimestre deste ano na comparação com igual período de 2005, a produção de bens intermediários cresceu 2,7%. O ritmo é 50% menor do que a expansão de 5,4% da indústria geral. Na mesma comparação, a quantidade importada de bens intermediários subiu 14,5%, segundo o levantamento elaborado pela Funcex. Cálculo da MB Associados demonstra que o consumo (produção mais importação menos exportação) de bens intermediários no país cresceu 3,9% no primeiro bimestre do ano na comparação com janeiro e fevereiro de 2005. O percentual é superior ao crescimento da produção nacional de insumos e foi influenciado pelo desempenho da importação. A exportação de bens intermediários no período cresceu 0,8%. "A taxa de câmbio está desestimulando a produção interna (de bens intermediários) e estimulando a importação", disse Lygia de Salles Freire Cesar, economista da Rosenberg & Associados. Sérgio Vale, economista da MB Associados, explica que as importações de bens intermediários estão crescendo de forma distribuída entre os setores. Já a produção doméstica de bens intermediários está concentrada em alguns segmentos. De acordo com Lygia, os bens intermediários estão divididos em insumos industriais básicos e elaborados. Por conta da forte demanda mundial, a produção de insumos industriais básicos, como petróleo e minério de ferro, está se expandindo fortemente nos últimos dois anos. O aumento da produção da Petrobras contribui para esse desempenho. Já o crescimento da produção brasileira dos insumos industriais elaborados é mais fraco. Dados elaborados pela Rosenberg demonstram que o refino de petróleo e álcool aumentou 0,4% em janeiro/ fevereiro, em relação a novembro/ dezembro, na série livre de influências sazonais. Já a produção doméstica de produtos químicos caiu 0,8% na mesma comparação. "Sem o bom desempenho do petróleo e do minério, a produção de bens intermediários poderia ter sido ainda mais fraca", afirma Lygia. A produção de metalurgia básica (laminados de aço) caiu 1,5% no bimestre janeiro/ fevereiro contra novembro/ dezembro. Nesse caso, o resultado foi fortemente influenciado pela paralisação de um alto forno da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN). José Ricardo Roriz Coelho, superintendente da Suzano Petroquímica e presidente do Sindicato das Indústrias Petroquímicas do Estado de São Paulo, conta que a sobrevalorização cambial tem levado a indústria petroquímica a uma "queda-de-braço" com as importações de termoplásticos, apesar de funcionar a plena capacidade. "O preço dos nossos produtos fica muito elevado em dólar e aumenta a competitividade nas importações. Este é um grande problema para a indústria brasileira de resina. Tem aumentado muito a importação de resinas plásticas", afirma Coelho. Mesmo assim, devido à forte demanda interna, o setor petroquímico considerou este um bom momento para fazer um reajuste de preços. "Estamos repassando agora nossa defasagem de ganhos por conta do câmbio", explica Roriz Coelho. (colaborou Vera Saavedra Durão, do Rio)