Título: Encontro do PT deve dar carta branca a Lula
Autor: Cristiane Agostine
Fonte: Valor Econômico, 05/04/2006, Política, p. A7

As definições para a campanha de reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que serão levadas para discussão no 13º Encontro Nacional do PT, de 28 a 30 de abril, não descartam a formação de alianças com os partidos identificados com o escândalo do mensalão e pedem cuidado aos petistas na arrecadação de recursos para o caixa eleitoral. Mesmo depois da crise enfrentada pelo governo, os dirigentes petistas sustentam que o partido é o que tem maior apoio popular e dão indicações de como será o discurso contra o candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin: ele é taxado como "candidato das elites, com discurso reacionário, oposto à defesa dos interesses democráticos, populares e nacionais." Um longo texto, de 13 páginas, divulgado ontem na página do partido na internet, traz as definições tiradas pela comissão política do Diretório Nacional do partido. O documento servirá de base para as discussões do encontro nacional, instância máxima do PT. O núcleo de discussão política do partido é formado por dirigentes como o assessor especial da presidência, Marco Aurélio Garcia (vice presidente), a deputada Maria do Rosário (segunda vice presidente) e Valter Pomar (secretário de relações internacionais). Para disputar as eleições, o PT demonstra que as alianças não devem deixar de lado os partidos envolvidos no esquema de caixa 2 e coloca três hipóteses para serem discutidas: alianças políticas, no primeiro turno, com partidos de esquerda e busca de sustentação em movimentos sociais; alianças de primeiro turno com outros partidos que integram a base de apoio do governo Lula; e alianças com partidos que não integram a base de apoio do governo Lula. Apenas uma proibição: qualquer tipo de acordo com o PFL e PSDB e a ressalva de que a direção deverá ser consultada. No documento, o PT assume que dirigentes erraram por ter "terceirizado as finanças" da sigla, cobra punições (se as denúncias forem comprovadas), mas alega que a falta de recursos para disputar as eleições levaria o partido à derrota. "Um partido de trabalhadores, numa sociedade profundamente desigual como a nossa, enfrenta enormes dificuldades para disputar eleições". O financiamento público de campanha aparece como forma de evitar o caixa 2. O tom do documento é de guerra à oposição. O partido mostra-se perseguido pela direita e diz que em 2005 "o país foi tomado pelo avanço do conservadorismo". Nas contestações, os dirigentes apontam a "tentativa de desqualificação da opção dos trabalhadores por Lula nas próximas eleições". O tucano Geraldo Alckmin é descrito como o o candidato da "retomada da agenda neoliberal e reacionária, supressão dos direitos sociais e constitucionais, privatizações e repressão aos movimentos sociais, submissão do Brasil aos interesses dos EUA". Os petistas reconhecem que a comunicação do governo foi falha e apontam mudanças, para um eventual governo Lula 2007-2010 também em outras áreas também: "na comunicação, no controle social e na democratização do Estado, no papel da chamada ' área econômica' e em sua composição interna, na política de alianças institucional e na construção de uma aliança orgânica com os partidos de esquerda, movimentos sociais e intelectualidade progressista." O documento traz críticas à política econômica, mas ponderadas. "A tarefa central de nosso governo era e segue sendo "construir um Brasil pós-neoliberal", diz o documento. Os petistas limitam-se à auto-crítica de que "não se poderia ter deixado o discurso do governo ficar prisioneiro dos limites do discurso da Fazenda ou do Banco Central. " Nas propostas de política externa, o partido reforça que em um novo mandato o presidente deverá lutar pelo fortalecimento do Mercosul e da Comunidade Sul Americana das Nações. Não avançará na negociação da Alca. "Defendemos a reeleição de Lula, pelo que fizemos, pelo que ainda precisamos fazer, pelo que isto significará para os povos da América Latina e do mundo", diz o texto. Na tentativa de municiar militantes, o partido divulgará em maio um dossiê das privatizações do governo Fernando Henrique Cardoso.