Título: Um Lula vestido para a guerra
Autor: Rosângela Bittar
Fonte: Valor Econômico, 05/04/2006, Política, p. A10

Pelo que vem passando aos olhos de todos, qualquer diagnóstico mostraria o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em mau momento. Um dos piores, se não o pior, momento de seus três anos e três meses de mandato. Lula perdeu, na crise política e de corrupção que abala seu governo há mais de dois anos, seus principais ministros e colaboradores, os companheiros de partido que o ajudaram a chegar à Presidência da República. Sua turma. Se os ministérios que compôs ao longo desses anos foram criticados pela insuficiência de ação, e o governo avaliado como de resultados pífios, o conjunto de colaboradores que assumiu em primeiro de abril último, com a desincompatibilização para candidaturas às eleições de outubro, é, literalmente, de segundo escalão. O presidente - se, como diz, nada sabe do que acontece nos porões do PT e do governo -, não pode prever qual ministro será implodido no dia de amanhã. Não consegue identificar quem lhe está mentindo. Preocupa-se em não deixar que a crise chegue à sua família. À distância, parece viver um interminável inferno astral. Não é este, porém, o panorama que descortinam os seus interlocutores mais próximos, políticos que com ele estiveram pessoalmente quando a demissão de Antonio Palocci já era uma realidade sem volta, e com ele falam ao telefone quase que diariamente. Estes vêem um presidente excitado com o calor da disputa eleitoral que trava, especialmente, com o PSDB. Lula está armado para a guerra e não quer deixar espaço para a depressão. Na avaliação desses amigos, pode cair o ministro mais importante que for, o presidente não pretende se abalar. Tem certeza do que fez, escolheu manter os secretários-executivos, a quem recomendou que continuem tocando a administração, exatamente para que ninguém invente nada e não faça marolas até as eleições. Lula está também convencido de que tem um discurso para a campanha, e este discurso seria bem melhor que o discurso de seu principal adversário. Ele está entusiasmado com o fato, constatado pelos levantamentos do governo, de que não perde do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em nenhum indicador.

-------------------------------------------------------------------------------- O discurso está mais voltado para os pobres --------------------------------------------------------------------------------

Foram feitos estudos com 16 indicadores, entre os quais a inflação, o crescimento, a dívida, o desemprego, o salário mínimo, e em todos Lula vê seu governo vencendo o governo que sucedeu. Por último, há a evidência, já demonstrada ao presidente, que disputar uma eleição, estando no cargo, torna o candidato praticamente imbatível. Quem detém a caneta, o Diário Oficial, a máquina, conta com todos os instrumentos necessários para formar uma rede de apoio em governadores, prefeitos, parlamentares. Para alguém não se reeleger, sem desincompatibilização, é preciso, na análise de aliado do presidente, ter ocorrido uma tragédia. Mais um argumento forte à mão do presidente é que Lula pode explorar a idéia de que tem os pobres a seu lado, dizem seus auxiliares, citando os programas bolsa-família, luz para todos e agricultura familiar entre os que servem melhor a esta idéia. Até para rebater os escãndalos de corrupção o governo acredita estar preparado: "Só a ameaça de levar adiante uma CPI da privatização fará os adversários do presidente conterem o ímpeto", confiam estrategistas do presidente. Ainda a conferir, porém, como fará o candidato presidencial à reeleição para superar os obstáculos dos setores em que se verá sem armas para lutar. O mais eloquente exemplo desta categoria de problemas é o caso da agricultura. Lula sabe que prejudicou os médios e grandes agricultores e a crise no setor agrícola é inquestionável. "Mas esses seriam uns 8 milhões, contra mais de 100 milhões de beneficiados", consolam-se os conselheiros do presidente.

Sindicatão

Para não entregar os anéis, o PT corre o risco de entregar o Presidente da República. Sabe que, para Lula, o melhor seria ver logo aprovado o relatório oficial da Comissão Parlamentar de Inquérito dos Correios, que o preserva integralmente apesar da derrocada de todos os que o cercaram em três anos de mandato. Sabe, também, que uma maneira de fazer a crise levar risco ao mandato do presidente é deixar que seja esmiuçado o contrato da Telemar com o filho de Lula, dono da empresa Gamecorp. Mesmo assim, insistem os petistas em livrar todo mundo do indiciamento, em tirar o nome de qualquer petista das conclusões negativas e fazer valer a fantasiosa tese, que o partido vem sustentando desde o início apesar das provas, de que o mensalão não existiu. Um intérprete acurado deste modo petista de agir, cultivado na cumplicidade sindical, comenta que só haveria uma pessoa capaz de dar um rumo e uma filosofia à ação da bancada do PT, conduzindo-a a uma negociação que continuasse a preservar o presidente e aceitar o relatório como o mais benéfico que o partido poderia almejar. Esta pessoa seria o deputado José Dirceu que, segundo esta avaliação, ainda é quem mais manda no PT e no governo. Entretanto, é justamente para livrar José Dirceu que a bancada está fazendo tudo para destruir o relatório da CPI.

Triângulo da Economia

São Paulo está se consolidando como um centro de alto nível para formação em economia, a partir do trabalho de três escolas que nada ficam a dever aos centros de excelência internacionais. A faculdade de economia da USP está, no momento, com mais de 160 especialistas em estudos no exterior, e com mais de 60 professores estrangeiros treinando seus alunos no Brasil. O Ibmec foi transformado por Claudio Haddad em um núcleo de formação em economia e administração em tudo inspirado em Harvard. E a Fundação Getúlio Vargas passa por transformações, registradas na avaliação de especialistas como admiráveis, com um projeto novo -- tanto no sentido de obra física, quanto no programa acadêmico - formulado por Yoshiaki Nakano.