Título: A maior inflação em 22 meses
Autor: Couto, Rodrigo
Fonte: Correio Braziliense, 29/05/2010, Economia, p. 16

Congresso vai votar a autorização para que brasileiros que moram no exterior se divorciem sem precisar vir ao Brasil

Fernando Soutello/AGIF/AE - 7/7/09 Pato e Sthefany: se a separação não fosse litigiosa, poderia ser em Milão

Depois de três anos do início da vigência do projeto de lei que permite a realização de separações, divórcios, inventários e reconciliações em cartórios de todo o Brasil, o Congresso Nacional se prepara para consentir que as autoridades consulares brasileiras celebrem as rupturas de uniões consensuais de casais brasileiros no exterior. A proposição (131/09), que já recebeu o aval da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE) do Senado, deve ser aprovada na próxima quarta-feira pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da casa. Pela proposta, de autoria do deputado Walter Ihoshi (DEM-SP), o marido e a esposa residentes fora do país e que optarem pela desunião não podem ter filhos menores ou incapazes.

A pedido do Itamaraty, o relator do projeto na CRE, senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA), acrescentou ao texto original que a separação ou divórcio realizados nos consulados deve contar com a participação de um advogado, mesmo que por procuração. ¿A primeira versão não previa a possibilidade, mas o Itamaraty pediu que incluísse uma emenda nesse sentido. Conversei com o autor (Ihoshi) e acertamos a alteração no projeto¿, explicou Ribeiro. Em sua opinião, a proposição, quando aprovada, vai facilitar a vida dos brasileiros residentes no exterior. ¿Hoje, como não é possível se separar nos consulados, eles precisam retornar ao Brasil para formalizarem o pedido¿, diz.

Vice-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), seção Rio de Janeiro, Sergio Eduardo Fisher avalia que o projeto segue a mesma linha da possibilidade de realizar separações e divórcios nos cartórios de todo o país. ¿O consulado nada mais é do que uma espécie de cartório no exterior, onde são feitos os registros de nascimentos. A medida será muito útil aos casais brasileiros residentes fora do país¿, afirma. Com mais de quatro décadas de experiência na área de família, Fisher acredita que as facilidades previstas na lei para a formalização das dissoluções pode contribuir para o crescimento dos divórcios no país (veja quadro). ¿É possível, mas também houve aumento do número de uniões estáveis, que é uma forma menos burocrática de casamento¿, pondera.

Se não tivesse sido litigiosa ¿ quando um dos dois não aceita ou não chega a um acordo ¿ a separação do jogador do Milan Alexandre Pato, 20 anos, e da atriz Sthefany Brito, 22, poderia ter sido feita no consulado brasileiro em Milão, na Itália. Pato foi obrigado a retornar ao Brasil e comparecer na 9ª Vara de Família do Rio de Janeiro, onde Sthefany aparece como ré. Segundo o advogado da atriz, Ricardo Brajterman, ¿Sthefany abandonou seu país, sua família e sua profissão para se dedicar ao marido, que mudou seu comportamento¿. A festa do casal, realizada em julho do ano passado na capital fluminense, teria custado R$ 1 milhão. O casamento relâmpago durou exatos 9 meses e 13 dias.

IGP-M dispara em maio e alcança 1,19%. No ano, o índice chega a 4,79%, puxado pelos alimentos e pelo minério de ferro, que subiu 49,76% só neste mês. Em abril, havia caído

Gabriel Caprioli

O monstro da inflação está apontando as suas garras e ameaçando os brasileiros novamente. O bolso dos consumidores e o caixa dos produtores ficaram bem mais apertados com a alta dos preços em maio, avançando 1,19% no mês e acumulando 4,79% no ano, segundo o Índice Geral de Preços ao Mercado (IGP-M), calculado pela Fundação Getulio Vargas. O indicador não subia tanto em um único mês desde julho de 2008. O produto que mais afetou o indicador foi o minério de ferro, insumo da indústria siderúrgica, usado em diversos produtos, como automóveis e eletrodomésticos. Somente em maio, o mineral ficou 49,76% mais caro, ante a queda de 1,06% em abril.

Apesar de não ser utilizado oficialmente como diretriz para o controle da inflação ¿ o Banco(1) Central utiliza o IPCA ¿ o IGP-M serve de base para o reajuste de vários itens da economia. Este índice, de janeiro a maio, já acumula alta superior à meta de 4,5% definida pelo governo para todo o ano. Até abril (o dado de maio ainda não foi divulgado), o IPCA totalizava 2,65%.

O minério de ferro deve continuar pressionando o IGP-M, na avaliação do economista-chefe da Máxima Asset Management, Elson Teles. ¿Creio que o índice ainda não captou toda a alta e deve registrar os avanços (de preços do insumo) por mais um ou dois meses¿, afirmou.

Pesando no bolso Os produtos alimentícios foram os que mais encareceram em maio para o consumidor final, liderados pelo feijão-carioquinha, que avançou 22,24%. A batata-inglesa, por sua vez, ficou 14,41% mais cara em maio. Apesar do impacto no orçamento familiar para as compras no supermercado nos últimos meses ¿ no acumulado do ano os alimentos avançaram 7,73% ¿ é justamente por essa via que os consumidores podem esperar um alívio nos preços, na análise do gestor de renda fixa da Personale Investimentos, Carlos Thadeu de Freitas Filho. ¿Nos próximos meses, vamos ter uma redução da inflação mensal. Os alimentos, que cresceram muito, vão dar uma folga agora¿, avaliou.

Teles reforçou o coro das boas notícias: ¿A inflação deve dar uma bela desacelerada por conta de alimentação. Subiu muito no começo do ano e, agora, deve devolver um pouco dessa alta. Vai estabilizar as expectativas e ajudar o Banco Central (no controle da inflação)¿, afirmou. Freitas Filho, no entanto, alerta que a redução dos alimentos também pode ser pontual e a colaboração para a queda da inflação pode ser por pouco tempo.

Alguns produtos deste segmento já contribuem para evitar uma inflação maior. O tomate liderou o ranking dos mocinhos da inflação com queda de preços de 21,50%. Também se destacaram na lista das reduções a laranja-pera, o açúcar refinado e o pimentão.

1 - Indicador de reajustes O IGP-M registra alterações de preços de matérias-primas agrícolas e industriais e de bens e serviços consumidos pelas famílias. É calculado pela Fundação Getulio Vargas (FGV) com base em preços pesquisados entre os dias 21 do mês anterior e 20 do mês de referência. É usado na correção de contratos de aluguel, energia elétrica, TV por assinatura e outros.

Nos próximos meses, vamos ter uma redução da inflação mensal. Os alimentos, que cresceram muito, vão dar uma folga agora¿

Carlos Thadeu de Freitas Filho, gestor de renda fixa da Personale Investimentos

Aço deve subir até 15%

A indústria siderúrgica deve sentir na pele os avanços do aumento de preço do minério de ferro, o que deve afetar diversas cadeias produtivas. A estimativa é de que o insumo fique de 20% a 30% mais caro no terceiro trimestre, o que vai levar o setor a promover novos reajustes no aço. Ao longo do ano, os preços já dobraram e a expectativa é que a correção das siderúrgicas fique entre 8% e 15%.

De acordo com o economista-chefe da Máxima Asset Management, Elson Teles, a indústria deve conseguir repassar percentual entre 15% e 20% da elevação de custos. Apesar da influência na elevação do IGP-M, o consumidor só sentirá o aumento de custos no produto final se as condições de mercado estiverem favoráveis, com a produção aumentando, por exemplo. Não é o caso do setor automobilístico onde a fabricação caiu de 339 mil unidades em março para 290 mil em abril, segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).

Algumas empresas do setor siderúrgico, como a Usiminas, a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e a Gerdau já sinalizaram, ao apresentar os balanços do primeiro trimestre de 2010, que vão elevar os preços, em função da alta estimada do minério de ferro. A estimativa da Usiminas é de que essa elevação fique entre 10% e 15%.

O governo já está de olho na disparada dos preços do aço. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, prometeu zerar a alíquota de importação do produto, que foi elevada a 12% em julho do ano passado, diante da pressão das siderúrgicas. As empresas alegavam que foram obrigadas a suspender a produção e a demitir funcionários por causa da queda da demanda, decorrente da crise mundial. No entanto, o governo não vê mais sustentação nesse discurso e promete agir para manter a inflação sob controle.

Os produtores de automóveis, maquinários, eletrodomésticos e setores ligados à construção civil são os mais dependentes do aço. De acordo com dados do Instituto Aço Brasil, a produção de aço bruto no ano passado chegou a 26,5 milhões de toneladas, com capacidade de fabricar mais de 42 milhões de toneladas por ano. (GC)