Título: Câmara vota hoje cassação de João Paulo
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 05/04/2006, Política, p. A10

O plenário da Câmara dos Deputados vota hoje o processo contra o ex-presidente da Casa João Paulo Cunha (PT-SP). Ele é acusado de receber recursos do esquema do valerioduto. O relatório de Cezar Schirmer (PMDB-RS), que pede a cassação de João Paulo, foi aprovado no Conselho de Ética por nove votos a cinco. Contra João Paulo pesa o fato de sua mulher, Márcia Regina Cunha, ter sacado da agência do Banco Rural em Brasília R$ 50 mil, da conta do empresário Marcos Valério. Em sua defesa, o ex-presidente da Câmara inicialmente disse que a mulher havia ido à agência pagar uma conta de TV a cabo. Depois, ele mudou a versão e disse que o dinheiro foi usado para ajudar na campanha do PT em Osasco, no ano passado. Apesar da recomendação do Conselho de Ética para cassar o mandato de João Paulo, o plenário tem absolvido, na maioria das vezes, os deputados envolvidos no esquema do suposto mensalão. Dos parlamentares acusados de envolvimento no valerioduto, apenas três foram cassados e sete foram absolvidos. Outros quatro renunciaram e estão habilitados a concorrer nas próximas eleições. Ontem, o conselho aprovou por 10 votos a 1 o relatório contra o deputado Josias Gomes (PT-BA) por quebra de decoro parlamentar. Ele é acusado de ter se beneficiado do esquema do valerioduto. O relatório, elaborado pelo deputado Antonio Carlos Mendes Thame (PSDB-SP), pede a cassação do parlamentar sob o argumento de que Gomes admitiu ter recebido dinheiro de caixa 2 por duas vezes. Em sua defesa, o deputado alegou que usou os recursos para pagar dívidas da campanha de 2002. O processo de Gomes foi posto em votação na semana passada, mas foi interrompido pelo pedido de vista de Neide Aparecida (PT-GO). O processo contra Josias segue agora para votação no plenário da Câmara. O presidente do conselho, deputado Ricardo Izar (PTB-SP), manteve ontem o afastamento da deputada Ângela Guadagnin (PT-SP). Izar deve indicar hoje o deputado que substituirá Ângela como relator do caso José Janene, suspeito de envolvimento com o valerioduto. Na semana passada, o PPS entrou com representação pedindo censura verbal e escrita pelo comportamento da deputada. Ângela Guadagnin dançou no plenário da Câmara para comemorar a absolvição do deputado João Magno (PT-MG), acusado de envolvimento no mensalão. A coreografia ficou conhecida como a "dança da pizza". A Mesa da Câmara opõe-se ao afastamento da deputada. Para a Mesa, Ângela só deveria ser afastada se o PPS pedisse perda ou suspensão do mandato da deputada, casos que seriam julgados pelo conselho. Segundo Izar, contudo, a Mesa não enviou até o momento nenhuma objeção formal sobre o caso. "Se a Mesa enviar uma manifestação por escrito contra o afastamento da deputada, vou recorrer à CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) para analisar a questão", afirmou. "O Código de Ética da Câmara é claro. Se o deputado é representado, ele deve se afastar. Se não fizer isso, deve ser afastado pelo presidente". A deputada defendeu todos os deputados acusados de envolvimento com o mensalão. Foi dela o pedido de vista que atrasou a votação final do relatório de João Paulo Cunha, prevista para hoje. O lugar de Ângela no Conselho foi ocupada pela suplente dela, Neide Aparecida (GO). (Com agências noticiosas)