Título: PT apresenta relatório paralelo na CPI
Autor: Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Valor Econômico, 05/04/2006, Política, p. A12

Um acordo de procedimentos acertado ontem entre governo e oposição pode evitar que a CPI dos Correios termine sem a aprovação de um relatório final. Reunidos na presidência do Senado, o presidente da CPI, senador Delcídio Amaral (PT-MS), o relator Osmar Serraglio (PMDB-PR) e os sub-relatores concordaram em formar uma comissão de sistematização para, com base no texto apresentado por Serraglio na semana passada, tentar construir um consenso englobando o máximo possível dos 37 votos em separados apresentados. Este texto poderá ser votado hoje. " Não é possível que, depois de tanto trabalho, a gente acabe sem um relatório. Se não houver texto final, perde o Congresso e o país. A nossa imagem já está no chão " , disse Delcídio Amaral. O principal dos votos em separado, apresentado pelo PT como um substitutivo global, contudo, dificilmente será aceito por Serraglio e deve ter seus principais pontos disputados no voto. Apresentado ontem pelos petistas que compunham a CPI, o texto acirrou ainda mais os ânimos. Nele, o conceito de mensalão é descaracterizado, os indiciamentos dos 18 parlamentares acusados de envolvimento com o valerioduto é suprimido e substituído por uma sugestão ao Ministério Público para investigar " possíveis irregularidades praticadas pelos deputados " . Além disso, nega que a Visanet tenha sido uma das principais financiadoras do mensalão. A guerra política esquentou e os dois lados recuaram da intransigência. Serraglio aceitou sentar à mesa para negociar. " Eu não analisei o voto em separado do PT, que tem 1.208 páginas, mas espero fazê-lo. Mas adianto que meu relatório tem uma linha estrutural - mensalão, Visanet - da qual não abro mão. Se for necessário, vamos para o voto " , avisou Serraglio. Os petistas, cientes de que não teriam voto para derrubar o texto do relator e aprovar a proposta alternativa, também amenizaram os ataques. " Queremos chegar ao maior consenso possível e evitar um banho de sangue político ou, pior, um relatório-pizza, que não indiciaria ninguém e abriria espaço para a impunidade " , reconheceu o deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP). Segundo um parlamentar do PT, a possibilidade de não haver relatório pesou no fechamento do acordo. O que não significa que haja consenso entre os petistas. " Tem gente no nosso partido que não quer relatório, outros querem radicalizar. Tem maluco para todos os gostos " , reconheceu Cardozo. O dia extra de prazo - a votação do relatório de Serraglio estava prevista para ontem - foi usado pelos partidos para compor maioria no plenário da comissão. Até o momento, os governistas têm a maioria dos 32 votos da CPI e poderiam aprovar as mudanças que pretendem fazer no relatório. Os oposicionistas apostam na fragilidade da maioria construída pelo PT e buscam apoio de deputados e senadores que, no decorrer das investigações, atuaram de forma independente. Os dois lados admitem que, independente de serem razoáveis ou não as propostas de alteração no texto do relator, mais importante para ambos é ter voto. Quem tiver mais votos, disseram ontem deputados do PT e do PFL, pode encerrar a discussão a qualquer momento e aprovar até um relatório paralelo. Para o sub-relator Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA), o PT percebeu que errou ao apresentar um relatório paralelo e agora, ao se dar conta que vai perder a votação, está buscando uma saída. "Se for à votação a gente ganha. Esse relatório é um suicídio. Viram a besteira que fizeram e agora querem conversar", afirmou. O líder do PFL no Senado, José Agripino (RN), lembrou que foi o governo que elegeu Serraglio e que não faz sentido agora rejeitar o relatório apresentado por ele: "Espero que eles recuem. Não é possível que quem votou no Serraglio vote contra o relatório dele. Nós que que votamos contra a eleição dele, vamos votar pelo relatório". (Com agências noticiosas)