Título: Juros devem ir a 10,25%
Autor: Caprioli, Gabriel
Fonte: Correio Braziliense, 29/05/2010, Economia, p. 18

Analistas não acreditam que a crise internacional mudará a política monetária. A alta da Selic em junho será de 0,75 ponto percentual. BC brasileiro é apontado como modelo no controle de preços

O Banco Central não terá muita escolha na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) a não ser elevar os juros novamente em 0,75 ponto percentual como feito na reunião passada, na previsão de analistas de mercado. Qualquer outro comportamento, seria contrário à rigidez imposta e mantida pela gestão do atual presidente, Henrique Meirelles, que melhorou nos últimos anos a reputação da instituição perante outras economias globais.

Além de ter contribuído com a superação da recessão do ano passado, o BC brasileiro é um dos primeiros do mundo a reagir rapidamente ao avanço da inflação, mesmo que a maior parte do mercado considere que ele tenha atrasado o ajuste. De acordo com o gestor de renda fixa da Personale Investimentos, Carlos Thadeu de Freitas Filho, comparada à demora de outros países, o Brasil agiu rápido. ¿Em vários países da América Latina, as expectativas de inflação já estão há três ou quatro anos acima da meta e os bancos centrais não realizam os ajustes necessários. Aqui, assim que as projeções passaram do centro da meta(1) e se tornaram desconfortáveis, o BC agiu¿, afirmou.

O economista, no entanto, lembra que a rapidez na reação da autoridade monetária brasileira pode estar relacionada ao histórico negativo de inflação elevada no país. ¿O BC está no fim de um processo de ganho de reputação. Nossa inflação não é baixa, mas moderada e pode chegar a média, se nada for feito e ela continuar girando em torno de 5% ou 6%. A nossa meta alta explica a atenção do banco, enquanto outros países podem se dar ao luxo de ter expectativas elevadas¿, avaliou.

A meta central do BC é de 4,5% no ano, com uma margem de tolerância de até dois pontos percentuais para mais ou menos. Atualmente, a estimativa do mercado é de que a inflação chegue a 5,6% em 2010.

Em outros países, as metas são menores. No Chile, a inflação tem que ficar em 3% ao ano, com intervalo de um ponto percentual para cima ou para baixo, mesma meta estipulada para o México. Na Austrália, o intervalo permitido para a inflação é entre 2% e 3% e em Israel, outro país que respondeu rapidamente ao crescimento da inflação, o avanço de preços tem que ficar, no ano, entre 1% e 3%.

Segundo Freitas Filho, há um consenso no mercado de que a meta brasileira é muito alta. ¿Em algum momento, precisará ser revista, para ficar mais próxima aos padrões internacionais. Quando isso será feito, é impossível saber¿, afirmou.

1 - Número a perseguir O Brasil adotou o Regime de Metas de Inflação em junho de 1999 depois de um forte ataque especulativo. Esse regime resguarda o poder do Banco Central de conduzir a política monetária de forma a cumprir a meta de inflação definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) para os dois anos subseqüentes.