Título: Otimista com 2006, FMI fala em cegueira sobre ajuste global
Autor: Tatiana Bautzer
Fonte: Valor Econômico, 05/04/2006, Internacional, p. A13

O Fundo Monetário Internacional (FMI) elevou suas previsões de crescimento da economia mundial em 2006 para 4,9%, acima dos 4,3% anteriormente previstos. No ano que vem, o crescimento deve ter ligeira redução, para 4,7%, segundo o relatório Perspectiva Econômica Mundial apresentados a ministros de Finanças asiáticos. O FMI prevê crescimento da China de 9,5% este ano (9% no ano que vem), e do Japão de 2,8%. A Coréia do Sul deve crescer 5,5%. Não foi divulgada a previsão para os EUA, mas o relatório projeta crescimento médio de 2,8% para os países do G-7. Todos os países asiáticos estão com nível de atividade mais alto do que se esperava. A zona euro deverá crescer menos que o Japão, 2% esse ano e 1,9% em 2007. Apesar do otimismo no curto prazo, o diretor-gerente do FMI, Rodrigo De Rato, elevou o tom do alerta sobre os riscos dos desequilíbrios econômicos, dizendo que a economia global está em condições "favoráveis pouco comuns", mas apoiada em fundação "frágil". Ele lembrou que este será o quarto ano consecutivo com crescimento acima de 4% no mundo, com inflação baixa e sistemas financeiros capitalizados. Mas, num evento organizado pela universidade de Harvard, previu que, se os governos não agirem para combater os desequilíbrios, certamente eles darão origem a uma crise. Os que acreditam que o desequilíbrio pode se manter indefinidamente ou que espontaneamente serão reduzidos de maneira gradual "são otimistas a ponto da cegueira voluntária", disse. De Rato citou o ex-reitor de Harvard, Larry Summers, para rebater essas expectativas. Num evento na Índia, Summers disse que "a experiência com as ações de tecnologia nos EUA, as bolsas no Japão e outras situações em mercados emergentes mostra que o momento de maior risco é aquele no qual os que estão preocupados com a estabilidade perdem a confiança nas suas próprias previsões, depois de fazer alertas prematuros, que são respondidos por racionalizações que chamam mais a atenção". Rato discutiu em detalhes os cenários de desmonte do desequilíbrio global, que combina altos déficits fiscal e comercial e baixa poupança dos EUA, rigidez das economias européias e alta poupança e acumulação de reservas na Ásia. A primeira hipótese seria uma queda brusca no consumo americano, que vem sustentando a expansão mundial. Se acompanhada de um estouro da bolha no mercado imobiliário, pode conduzir a economia mundial à recessão. A segunda hipótese é a de um ajuste forçado pelo mercado financeiro, com a recusa de financiamento do déficit dos EUA. Isso derrubaria o valor do dólar e elevaria os juros, o que também provocaria contração econômica. "Em qualquer um dos cenários, há um risco de que o estrago econômico seja agravado por protecionismo. Hoje já há indícios de aumento da pressão protecionista", afirmou. A falta de avanço nas negociações da Organização Mundial do Comércio (OMC) mostra que a fúria exportadora da China está dificultando a negociação comercial. Nos EUA, o setor agrícola usa como argumento a favor dos seus subsídios o fato de ser o único a gerar superávit comercial no país. Rato disse que o FMI pretende avaliar a política cambial de um número maior de países. "Hoje isso já é feito com países industrializados, mas poderia ser estendido para as maiores economias emergentes." O diretor-gerente quer ainda que os relatórios do Fundo que avaliam as economias abordem apenas os tópicos mais importantes para a estabilidade em cada país, mas com profundidade.