Título: Pólo paulista de cerâmica cresce e lidera venda no país
Autor: Paulo Henrique de Sousa e Vanessa Jurgenfeld
Fonte: Valor Econômico, 05/04/2006, Empresas &, p. B9

O pólo de Santa Gertrudes (SP), o segundo maior do mundo atrás apenas do de Castellon (Espanha), já responde por mais de 60% de toda a cerâmica produzida no país - era 15% há 15 anos. Enquanto o mercado interno está estagnado e as exportações em tendência de queda por causa do real valorizado, as cerâmicas do pólo paulista continuam aumentando as vendas, o que indica que estão tomando espaço de outras, principalmente das localizadas na região Sul, mas também de algumas empresas instaladas no interior de São Paulo, mas fora do pólo. No ano passado, o setor cerâmico vendeu 444 milhões de metros quadrados, dos quais 304 milhões vieram de São Paulo e 251 milhões do pólo de Santa Gertrudes. Enquanto a produção nacional ficou praticamente estagnada, o pólo cresceu 12%. As exportações brasileiras ficaram em 113 milhões de metros quadrados, 10% menos do que em 2004. O pólo, no entanto, exportou 20% mais do que no ano anterior - 35 milhões de metros quadrados, segundo a Associação Paulista das Cerâmicas de Revestimento (Aspacer). Algumas das empresas do pólo estão até duplicando a capacidade de produção. É o caso da Buschinelli, que vai chegar ao final do ano com capacidade de produção de 1 milhão de metros quadrados. O diretor de marketing, Christian Rodrigues, conta que acabou de ligar um novo forno, no qual investiu US$ 8 milhões. Pode parecer temerário aumentar a produção com o mercado interno praticamente parado, mas ele explica que a estratégia é expandir as vendas para fora do estado de São Paulo, para regiões em que a empresa tem pouca participação, principalmente no Norte e no Nordeste. De inexpressiva, a participação das vendas para essas regiões pode chegar a 15%. Mas Rodrigues planeja levar os produtos da Buschinelli para outros estados do Sul e Sudeste. Recentemente, fez a primeira venda para o Rio Grande do Sul. As cerâmicas de Santa Catarina desistiram de competir com as de Santa Gertrudes pelas faixas de mercado mais baixas. A explicação mais comum é a de que as paulistas têm uma vantagem importante: a argila da região permite a fabricação da cerâmica pela chamada "via seca", enquanto as do Sul precisam misturar a argila com outras matérias-primas em um tanque com água. Esse processo é mais caro do que o seco, que exige apenas a retirada da argila e a secagem em temperatura ambiente. Mas há empresas em São Paulo que mesmo utilizando a via úmida conseguem preços competitivos. As três grandes - Eliane, Cecrisa e Portobello - apostaram em produtos sofisticados para o exterior e, agora, com a valorização da moeda, não passam por bons momentos - o que já acontecera na década de 90. Saem dos fornos delas praticamente todo o porcelanato vendido no país. Para o mercado de luxo, é esse tipo de cerâmica que interessa. O presidente da Brascan Engenharia e Construções, Márcio Matta, conta que só usa essas três marcas nos prédios de luxo que constrói, no Rio de Janeiro. Ele nem sequer conhece a Gyotoko, por exemplo, uma das maiores cerâmicas paulistas. Para os empresários catarinenses, este é um período de ajustes. Em geral, eles pretendem melhorar a participação no mercado interno, mas não reduzirão drasticamente as exportações. Mas os problemas existem. O presidente do sindicato dos trabalhadores das cerâmicas de Criciúma, Itaci de Sá, conta que há especulações de que a Eliane demitiria 75 pessoas, paralisando uma linha de produção - a empresa não comenta o assunto. Na Portobello, houve demissões entre dezembro e fevereiro e algumas paralisações temporárias de linhas de produção. Entre as que divulgam balanço, as duas empresas catarinenses do setor estão com prejuízo. A Portobello, que lucrara R$ 4 milhões, em 2004, amargou um prejuízo de R$ 19,2 milhões em 2005. A Cecrisa também teve perdas de R$ 10,2 milhões, no passado, ante lucro de R$ 4 milhões, em 2004. O presidente da Cecrisa, Rogério Sampaio, diz que a empresa não pretende demitir. Destaca que ela vem há algum tempo fazendo esforços para melhorar o resultado. Entre eles, diminuição das vendas em países em que não tinha uma boa rentabilidade, como asiáticos e africanos. Há quase um mês, uma empresa de porte médio, a cerâmica De Lucca, parou a produção. Outra companhia, a Vectra, esteve em situação parecida no fim do ano passado, e passou a ser administrada pelos funcionários. Para Murilo Bortoluzzi, vice-presidente da catarinense Itagres, a guerra de preços no mercado nacional é menos prejudicial do que o câmbio. "Mas estrategicamente é interessante manter o mercado externo para estabilidade comercial e expansão, porque ele pode melhorar", diz. A Itagres, cujas exportações representam 30% do faturamento, está investindo na construção de uma fábrica no Rio Grande do Norte, para passar a atender o mercado do Nordeste. De lá, também conseguirá melhor atender a clientes internacionais, com prazos e custos de logística menores.