Título: Instituição dá início a processo de reestruturação
Autor: Alex Ribeiro
Fonte: Valor Econômico, 05/04/2006, Finanças, p. C1
O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) deverá passar nos próximos meses por um intenso processo de reorganização administrativa para tornar mais ágil sua burocracia e adaptá-la às necessidades de governos e empresas privadas que contam com seus recursos para financiar obras e outros empreendimentos na América Latina. A instituição definiu o setor privado como uma prioridade para os próximos anos durante sua reunião anual, que termina hoje em Belo Horizonte (MG), mas tem um longo caminho a percorrer se quiser cumprir os planos ambiciosos anunciados pelo seu novo presidente, o colombiano Luis Alberto Moreno. "O banco precisa ter para o setor privado a mesma importância que teve para o setor público no passado, quando o modelo de desenvolvimento da região era outro", disse o coordenador das atividades voltadas para o setor privado no BID, o brasileiro Carlos Guimarães, um ex-executivo do Citibank que hoje trabalha no gabinete de Moreno. Há pouco mais de um ano na função, Guimarães diz ter obtido uma redução de 16 para 8 meses no tempo médio de aprovação dos projetos sob sua supervisão. Ele acha que ainda é um tempo excessivamente longo. Existem casos de iniciativas que esperaram mais de três anos até receber os recursos. O trabalho de Guimarães é aproximar o departamento do banco que analisa os projetos do setor privado e duas outras organizações, a Corporação Interamericana de Investimentos (CII), um braço do BID que financia pequenas e médias empresas, e o Fundo Multilateral de Investimentos (Fumin), que dá assistência técnica em alguns casos. Moreno anunciou em seu discurso na abertura da reunião que quer tornar o banco "ágil" e promover "arranjos para descentralização" da atuação do BID, mas deixou os detalhes para mais tarde. "Ele não apresentou até agora nada parecido com um organograma com todas as caixinhas e os nomes no lugar", disse o representante dos Estados Unidos na diretoria executiva do BID, Hector Morales. Atualmente, o BID só financia projetos privados em três situações, quando envolvem o setor de infra-estrutura, comércio exterior e operações no mercado de capitais. Em Belo Horizonte, representantes do Brasil e dos outros 46 países que controlam o banco decidiram que a partir de agora ele poderá emprestar para qualquer outra atividade, exceto indústrias controversas como as de cigarros e armas. As novas regras só se aplicam a uma parcela pequena dos recursos da instituição, limitada a 10% do seu capital e equivalente a US$ 5,2 bilhões hoje. Esse dinheiro também poderá ser usado para financiar empresas estatais sem garantias do governo federal e projetos de parceria público-privada (PPP) como os que o Brasil pretende usar para fazer estradas e outras obras. Cada país definirá com o BID os setores que julga prioritários no processo de revisão anual da estratégia local da instituição, afirmou o chefe da área de mercado de capitais do departamento do setor privado do banco, Hans Schulz. Escritórios regionais do BID, como o mantido em Brasília, foram orientados a formar conselhos com representantes das empresas para entender melhor os seus interesses. O BID emprestou no ano passado US$ 7 bilhões, dos quais US$ 683 milhões tiveram como destino o setor privado. As mudanças em curso no banco têm como objetivo garantir sua sobrevivência num contexto bastante desfavorável, em que seus clientes habituais, os governos, tentam reduzir seu endividamento e têm outras fontes de capital externo à disposição.