Título: IIF teme fluxo para emergentes
Autor: Alex Ribeiro
Fonte: Valor Econômico, 05/04/2006, Finanças, p. C1

Banqueiros e investidores do mundo inteiro representados pelo Instituto Internacional de Finanças (IIF) expressaram ontem, durante reunião anual do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), sua preocupação com a miopia dos mercados financeiros e dos governos na mensuração dos riscos envolvidos na enxurrada de investimentos em países emergentes. A América Latina merece atenção redobrada, segundo o IFF, porque ocorrerão eleições em sete países da região em 2006. "O robusto fluxo de capital é não só produto do crescimento das economias emergentes, mas também de uma liquidez recorde", alertou o vice-presidente do IIF e presidente do Citibank, William Rhodes. "Parece haver insuficiente diferenciação entre as economias emergentes." Ele lembrou que, no início de 1997, o BID fez uma reunião em Barcelona num contexto econômico semelhante, com fortes fluxos de capitais a países emergentes e redução dos prêmios de risco. "O perigo já existia, mas muita gente não queria reconhecer", afirmou. "Em julho de 1997 começou a crise asiática." Embora não tenha sugerido que uma turbulência da mesma proporção vá se repetir, Rhodes chamou atenção para alguns pontos semelhantes num momento e no outro. O fluxo líquido de capitais para a América Latina, da mesma forma que naquele período, permanece alto, apesar das decisões reduzir dívidas tomadas por governos da região. A previsão do IIF é de ingressos de US$ 43 bilhões em 2006, pouco inferior aos US$ 47 bilhões do ano anterior. Paralelamente, está havendo uma compressão generalizada dos prêmios de riscos, sem que haja uma diferenciação entre os países. Na visão do IIF, esse é um sinal de que os riscos não estão sendo bem medidos pelos credores e investidores, que colocam os países no mesmo nível. Rhodes lembrou que a economia vive de ciclos, ora positivos e ora negativos, e que o mundo começou a entrar em um terreno mais pantanoso com a perspectiva de maior aperto nos juros dos Estados Unidos e da reversão da política monetária acomodatória no Japão. Quando provocado a revelar quais são, afinal, os países que estão tendo os riscos subestimados pela comunidade financeira, Rhodes disse que o IIF não iria apontá-los individualmente. O diretor-executivo do IIF, Charles Dallara, recomendou que os governos dos países da América Latina - e os candidatos que disputam as várias eleições marcadas na região - aproveitem o ciclo positivo mundial para reforçar fundamentos e, assim, tornarem-se mais preparados quando o ciclo negativo tiver início. "É fácil (para os países emergentes) interpretar esse acesso a mercado de capitais como um forte voto de confiança. Mas não é sempre o caso", disse Dallara. "Países com políticas mais questionáveis talvez enfrentem desafios quando os juros (em países desenvolvidos) subirem." Em entrevista concedida durante a reunião do BID, Dallara foi questionado sobre a responsabilidade dos próprios bancos, gestores de fundos e investidores - grande parte deles membros do IIF - sobre um ambiente em que os riscos estão subestimados. "Vários membros do IIF permitiram que chegássemos aonde chegamos", admitiu. "Mas temos que reconhecer que a liquidez global tem uma grande influência na forma como os mercados reagem." O presidente do Itaú e vice-presidente do IIF, Roberto Setúbal, disse que a falta de adequada mensuração de riscos é um problema real, mas ponderou que países da América Latina colocaram em prática reformas que fortalecem os fundamentos econômicos, como a redução do endividamento externo, ajuste fiscal e controle da inflação. Ele assinalou, por outro lado, que a farta liquidez não deve ser pretexto para adiar reformas - no caso brasileiro, a previdenciária e a tributária. Setúbal relativizou os riscos eleitorais. "Na América Latina, a diferença entre esquerda e direita se tornaram menores do que no passado. São basicamente as mesmas políticas econômicas", disse Setúbal. "É basicamente o mesmo que aconteceu há cerca de 15 anos na Europa."