Título: Lula descarta intervenção no câmbio
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 06/04/2006, Brasil, p. A3

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem, em Camaçari, na Bahia, que não vai interferir na cotação do dólar, considerada baixa por empresários do setor exportador, e que o próprio aumento das importações é que vai "consertar o câmbio". "O que vai consertar o câmbio brasileiro não é um decreto-lei, uma medida provisória ou uma mágica, o que vai arrumar o câmbio e colocá-lo no ponto justo é a seriedade da política econômica, é o comportamento do empresariado brasileiro, a certeza de que os juros vão chegar a um patamar que precisam chegar, mas também a certeza de que o Brasil precisa importar mais do que está importando, sobretudo máquinas, para que a gente tenha as nossas empresas atualizadas", disse Lula. Em discurso na inauguração da fábrica de pneus da alemã Continental, Lula também lembrou que o fluxo de comércio brasileiro ultrapassou US$ 200 bilhões nos últimos 12 meses, "um valor que muitos analistas econômicos não acreditavam que fôssemos atingir". Lula também lembrou que pela primeira vez desde que foi criada, em 1954, a Petrobras vai exportar mais do que importar, alcançando um superávit de US$ 3 bilhões em 2006. Segundo o presidente, a estatal deve anunciar no dia 21 a conquista da auto-suficiência na sua produção de petróleo. "Ela vai produzir um pouco mais do que aquilo que nós consumimos, mas ela não vai parar de importar porque nós precisamos importar petróleo leve para misturar ao nosso petróleo pesado", disse. O presidente destacou que o governo vem adotando uma política industrial que tem promovido o crescimento do setor produtivo. "Pouco tempo atrás, se dizia que (o país) não deveria ter política industrial. Nós resolvemos assumir a responsabilidade de que precisávamos de política industrial", disse ele, ressaltando que de 23 atividades pesquisadas, 15 tiveram crescimento. O setor farmacêutico, por exemplo, cresceu 26%, o automotor, 4,8% e a produção de bens de capital, 8,6%. No setor energético, o crescimento foi de 42% e na construção civil, 19%. No discurso, o presidente ainda enumerou algumas conquistas econômicas de seu mandato e destacou o controle da inflação. "Para nós, o controle da inflação é o melhor aumento de salário que o trabalhador tem porque o trabalhador vai comprar as coisas muito mais baratas", afirmou. O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, que acompanhou o presidente Lula na solenidade, informou que o governo vai insistir na tentativa de proibir, definitivamente, a importação de pneus usados e reformados. "O Brasil não pode ser o destinatário do lixo do mundo", disse. O mercado de reposição de pneus rende R$ 3 bilhões por ano no Brasil e tem sido protagonista de recorrentes disputas jurídicas entre fabricantes e empresas de recauchutagem. No fim de 2005, foi enviado ao Congresso um projeto de lei que efetivaria a proibição, mas a iniciativa não foi adiante, disse Furlan. A eventual aprovação do projeto reforçaria proibições já previstas na Convenção de Basiléia, da qual o Brasil é signatário, e resoluções do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), da Secretaria de Comércio Exterior. Embora proibida no país, a importação de pneus para recauchutagem mantém-se ativa por força de liminares concedidas pela Justiça. (Patrick Cruz, com agências noticiosas)