Título: Varig pede prazo de 90 dias para pagar fornecedores
Autor: Janaina Vilella e Daniel Rittner
Fonte: Valor Econômico, 06/04/2006, Últimas notícias/Empresas, p. A5

Às voltas com graves problemas de caixa, a Varig corre contra o tempo para evitar a paralisação de suas operações. O presidente da companhia, Marcelo Bottini, disse ontem que solicitou ao governo um prazo de carência para o pagamento aos principais fornecedores, entre eles Infraero e BR Distribuidora. De acordo com uma fonte envolvida nas negociações, o adiamento seria de 90 dias. Essa medida, segundo ele, daria fôlego financeiro para que a Varig possa voar, na baixa temporada, época em que tradicionalmente as receitas da aérea diminuem. "A idéia é, de alguma maneira, criar um colchão, alguma facilidade para que possamos superar [a crise]", disse. A proposta foi recebida com bastante cautela pelos credores estatais. Responsável pela administração dos aeroportos e sem um centavo da Varig há sete meses, a Infraero recebeu um pedido de não cobrar nenhuma tarifa aeroportuária até o fim de julho, quando a empresa aérea faria uma compensação. "Pode ser uma excelente proposta para a Varig, mas não podemos continuar oferecendo os nossos serviços de graça", comentou um executivo da estatal. O presidente da Infraero, brigadeiro José Carlos Pereira, pretende discutir hoje a crise da Varig com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo o brigadeiro, a diretoria da estatal não pode assumir a responsabilidade de deixar a cobrança de lado até julho, sob pena de responder a um processo judicial por gestão temerária, movido pelo Tribunal de Contas da União. A empresa já acumula uma dívida de R$ 492 milhões com a Infraero. Uma eventual solução seria o ministro da Defesa, Waldir Pires, dar uma ordem para abrir o prazo de carência. Ele é o presidente do conselho de administração da estatal. Como tem foro privilegiado, o ministro não teria que responder ao TCU. Sem essa interferência política, os vôos da Varig só receberão autorizações para decolar após o pagamento das taxas, à vista e em dinheiro, em cada aeroporto. A BR Distribuidora também foi cautelosa. Rodolfo Landim, presidente, disse que está aberto a negociações com a companhia aérea, mas frisou que qualquer crédito novo só será concedido "se a Varig assinar um novo contrato concedendo garantias reais". Quando entrou em recuperação judicial, em junho do ano passado, a Varig devia R$ 56 milhões à BR. A distribuidora esclareceu que ainda não recebeu qualquer pedido de proposta para aumento do prazo de pagamento do combustível. O presidente da Varig descartou qualquer tipo de paralisação das operações da companhia, mas admitiu que a situação do caixa é "limitada". "Já falamos desse risco da empresa parar há 10 anos, mas precisamos de um investidor para que possamos dar continuidade ao processo", afirmou Bottini. Ele negou que tenha enviado e-mail ao presidente Lula, no qual teria alertado para o risco de a empresa parar hoje. "Já faz algum tempo que solicitei uma audiência ao presidente Lula para que pudesse me apresentar como presidente da Varig e também falar sobre o plano de recuperação da empresa." O novo presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Demian Fiocca, disse que a instituição não agirá por interferência política. Durante a solenidade de posse no cargo, quando lhe perguntaram se o Palácio do Planalto havia pedido alguma atenção especial à aérea, ele repetiu cinco vezes que a Varig receberá tratamento técnico se precisar de recursos. "É importante contribuir para que setores em dificuldades não entrem em crises maiores. Mas o BNDES se comporta sempre dentro da prudência bancária e do rigor técnico", disse. Ontem à tarde, os presidentes da BRA e da Ocean Air foram convocados para uma reunião na Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Os encontros reforçaram os rumores de que o órgão regulador desenha um plano de contingência para que as concorrentes assumam as linhas da Varig, mas a Anac nega esse tipo de vinculação. Na terça-feira, os diretores da agência estiveram com executivos da TAM e da Gol. Segundo informações da Infraero, da Anac, da Varig e de agências de viagens, não houve alterações, como cancelamentos ou atrasos de vôos, em níveis anormais nas operações da companhia aérea. (Colaboraram Claudia Schuffner, do Rio; Sergio Leo, de Brasília; e Roberta Campassi, de São Paulo)