Título: Novo "benchmark" dará liquidez ao mercado de títulos, diz Kawall
Autor: Tatiana Bautzer
Fonte: Valor Econômico, 25/04/2006, Finanças, p. C2
O novo secretário do Tesouro, Carlos Kawall, acredita que o mercado secundário de títulos públicos prefixados só terá mais liquidez quando os fundos de investimento mudarem sua referência de rendimento do CDI para taxas prefixadas. "Os investidores estrangeiros querem mais transparência no mercado secundário, porque hoje a maior parte dos negócios é em mercado de balcão", disse Kawall durante uma palestra no Brazil Summitt, um evento sobre economia brasileira em Nova York. O uso de "benchmark" (referência de rendimento) alternativo ao CDI e maior atividade dos fundos de pensão ajudaria a desenvolver o mercado secundário de papéis prefixados, e facilitaria o aumento de liquidez para papéis de prazo mais longo. "Estamos tentando convencer a indústria de fundos sobre a necessidade de mudar o benchmark. O problema é que os fundos hoje são viciados em overnight", disse Kawall. Nelson Perez/Valor Kawall, secretário do Tesouro: "Estamos tentando convencer a indústria de fundos, mas o problema é que os fundos hoje são viciados em overnight"
Perguntado sobre possíveis medidas que poderiam ser tomadas pelo Tesouro para estimular a migração, Kawall disse que a iniciativa deve partir dos próprios investidores e que a mudança do perfil da dívida aos poucos estimulará o uso de novas referências para o rendimento dos papéis para adaptação dos fundos a uma nova realidade de mercado. "Hoje o total da dívida indexada à taxa Selic é de 45%, e em cinco anos essa proporção deve cair para 40%. Já estamos com mais de 50% do estoque da dívida de papéis indexados à inflação ou prefixados", disse. Como alternativas ao CDI, os fundos poderiam usar as taxas de rendimento de papéis de um ou dois anos de prazo. Nos Estados Unidos, por exemplo, os fundos de renda fixa de curto prazo usam como referência as taxas dos bônus do Tesouro americano de prazo mais curto (1, 2 ou 5 anos).
Hoje, a excessiva concentração em prazos curtos e a inversão da curva de juros provocam dificuldades a investidores estrangeiros interessados em investir no mercado brasileiro. "Os investidores estrangeiros acham que falta liquidez nos papéis de longo prazo", admitiu o secretário. Kawall diz que os prazos dos títulos vendidos nos leilões do Tesouro vêm subindo rapidamente e que já há papéis emitidos com vencimento até 2045, o que mostra o interesse de investidores de garantir taxas de juros altas com a expectativa de quedas futuras. O mercado projeta taxa Selic de 13% no fim do ano que vem (hoje a Selic está em 15,75%)
Uma das alternativas para construir uma curva de juros mais longa é a emissão de títulos em reais no exterior com prazos acima de 2016. Kawall acredita que o Tesouro concluirá este ano as captações necessárias para o financiamento das necessidades externas de 2007.
Em sua primeira viagem ao exterior como secretário do Tesouro, Kawall procurou mostrar que os resultados fiscais dos primeiros meses do ano não estão ruins, considerando que 2006 é um ano eleitoral. Em 2002, também ano de eleições presidenciais, o governo Fernando Henrique Cardoso fez 40,9% da meta de superávit fiscal entre janeiro e abril. Neste ano, o governo Lula deve fazer 40,7% da meta prevista para o ano, disse. O resultado previstos para os primeiros quatro meses de 2006, argumenta o secretário, é melhor do que os 36,6% ocorridos em 2004.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, depois de sucessivas explicações sobre superávit primário durante a reunião de primavera do FMI, disse que termina a viagem aos EUA tendo "dissipado qualquer dúvida" sobre seu compromisso com as metas fiscais. Durante a reunião do Fundo em Washington, Mantega disse que sua meta é de superávit de 4,25%. A meta só será ultrapassada se ocorrer um aumento inesperado da arrecadação num momento em que não haja mais tempo hábil para direcionar os recursos a investimento.
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