Título: Aerus venderá ações para pagar dívidas
Autor: Carolina Mandl e Catherine Vieira
Fonte: Valor Econômico, 25/04/2006, Empresas, p. B3

O Aerus, entidade de previdência privada dos trabalhadores da aviação, colocará à venda a participação acionária que detém em empresas como Paranapanema, Kepler Weber, Tupy, Inepar Construções e Inepar Energia. Considerados os valores dos papéis dessas companhias em bolsa ontem, isso equivaleria a cerca de R$ 441 milhões.

Isso ocorrerá porque três fundos administrados pelo Aerus - dois da Varig e um da Transbrasil - entraram em liquidação neste ano. Os recursos obtidos com a venda desses ativos será distribuído entre os participantes dos fundos liquidados, segundo informou o Aerus.

A venda dos papéis dessas empresas deverá corresponder à parcela que os fundos de pensão das duas companhias aéreas detinham nelas. O Aerus é mantido por 21 patrocinadoras, como Amadeus e Iata (Associação Internacional de Transporte Aéreo). No entanto, Varig e Transbrasil detém cerca de metade de seus 29, 4 mil participantes.

Para transformar esses ativos em dinheiro, o Aerus deverá enfrentar alguns obstáculos. Um interlocutor ligado aos sócios do Aerus nas empresas em que o fundo participa lembra que o Aerus precisaria vender participações minoritárias para efetuar o desinvestimento.

"Quando as participações são grandes, mas ao mesmo tempo não dão o controle, é muito mais difícil vender uma posição para um sócio estratégico", diz ele. Na Kepler Weber, por exemplo, o Aerus detém 24,7%.

Outra dificuldade é que a maioria das companhias passou recentemente por reestruturações. A Tupy, fundição catarinense, concluiu uma renegociação de dívida de cerca de R$ 700 milhões em 2003 e nos últimos anos vinha melhorando seus resultados operacionais. Em 2005, no entanto, a Tupy foi duramente afetada por um provisionamento fiscal, que gerou um prejuízo de R$ 130 milhões. Há cerca de dois anos, chegou a circular notícia de que alguns sócios estariam buscando investidores estratégicos.

Já a Paranapanema está no meio de um processo de reestruturação societária previsto para ser concluído até meados do ano. No fim de 2005, a companhia repactuou com o BNDES um alongamento de 180 dias no prazo de vencimento das debêntures da companhia e durante esse prazo deve alinhavar a reestruturação societária.

O Valor apurou na época que a empresa tinha contratado um banco de investimento e um escritório de advocacia para trabalhar num novo acordo de acionistas com melhorias na estrutura de governança.

Enquanto a venda da participação do Aerus nessas empresas não ocorre, o fato de ter um acionista em liquidação não deve trazer problema para elas. "Na gestão da Paranapanema, nada mudará porque o Aerus não faz parte do bloco de controle", afirma Geraldo Haenel, diretor-presidente.

Uma solução para o Aerus poderia ser uma venda no mercado secundário ou uma oferta pública de ações. Para Fabio Alperowitch, sócio da Fama Investimentos, o fato de o Aerus ter entrado em liquidação pode levar a Kepler Weber a migrar para o Novo Mercado, nível máximo de governança da Bovespa. A Fama detém ações da companhia cujo controle está nas mãos de quatro sócios: Aerus, Serpro, Previ e Banco do Brasil Investimentos.