Título: Índia recorre ao Brasil para incentivar consumo de café
Autor: Mônica Scaramuzzo
Fonte: Valor Econômico, 25/04/2006, Agronegócios, p. B13
A consultoria brasileira P&A foi contratada pelo governo da Índia para traçar uma estratégia de estímulo ao consumo de café naquele país. "Será um grande desafio, uma vez que o café concorre com o tradicional chá. Outra barreira será convencer a região Norte do país a consumir café", afirmou ao Valor Carlos Brando, presidente da P&A. Carol Carquejeiro/Valor Segundo Carlos Brando, presidente da P&A, o café concorre com o chá na Índia
Com uma produção estimada em cerca de 5 milhões de sacas, a Índia exporta atualmente 80% desta oferta. O consumo interno, que hoje gira em torno de 1,2 milhão de sacas, está concentrado apenas em cinco Províncias do país, localizadas na região Sul.
Desta semana até o dia 1º de maio, Brando participará de reuniões com o governo indiano e com o setor privado para discutir estratégias de estímulo ao consumo, a exemplo do que o Brasil fez no início da década de 1990. A P&A também começou a desenvolver um modelo de trabalho para a Nicarágua ampliar seu consumo. "Estamos discutindo o contrato".
"O conceito de supermercados começou a surgir agora na Índia. Boa parte do café é vendido a granel em pequenas lojas", lembrou Brando. Segundo ele, os indianos também têm a tradição de torrar o café junto com a raiz de chicória. "Vamos ter de fazer uma adaptação, uma vez que a mistura da chicória com o café faz parte da tradição do país", afirmou.
Uma das estratégias que deverão ser adotadas será levar o consumo de café para dentro do lar, ao contrário dos esforços em curso no Brasil. Segundo Brando, a Índia conta com redes de cafeterias locais freqüentadas por um público mais jovem. "O desafio será levar o consumo das lojas para dentro de casa, atraindo o interesse do público mais velho, tradicionais consumidores de chá".
As campanhas também deverão ser direcionadas para o varejo, para a venda de torrado e moído. "Os consumidores costumam consumir café em sachês para pequenas doses", observou Brando.
Com a produção voltada para exportação, a Índia está perdendo mercado para os cafés mais baratos do Vietnã, segundo maior produtor mundial, atrás do Brasil. O estímulo ao consumo interno é uma alternativa para que a cafeicultura do país não entre em crise.
A campanha no mercado interno, ancorada por Brando, terá a meta de aumentar o consumo dos atuais 1,2 milhão de sacas para algo em torno de 2 milhões nos próximos dois a três anos.
Em 2004, a consultoria P&A foi contratada pela Organização Internacional do Café (OIC) para elaborar um estudo de fomento para os países produtores de café sem tradição no consumo.
Essa cartilha, com versões em inglês e espanhol, orienta os países a estimular o consumo doméstico de café. Para fazer esse trabalho, Brando visitou países como Vietnã, Quênia, Uganda, Colômbia, Índia, México e Guatemala para traçar um perfil com os hábitos de consumo de cada um deles para a elaboração de estratégias de estímulo ao consumo.
Atualmente, o consumo global de café está em 110 milhões de sacas - 28 milhões delas consumidas por países produtores do grão.