Título: CPI dos Correios aprova relatório de Serraglio e PT recorre contra votação
Autor: Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Valor Econômico, 06/04/2006, Política, p. A8

Numa sessão tumultuada, em que houve insultos de deputados petistas ao presidente da comissão, os integrantes da CPI dos Correios aprovaram ontem, por 17 votos a 4, o relatório do deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR). O documento reconhece que houve mensalão para comprar votos de parlamentares e promover mudanças de partido. A tensão da última reunião da CPI, exclusivamente destinada à votação, foi o ápice de um dia confuso, tenso, com encontros intermináveis sem consenso, discursos radicais e troca de acusações entre governistas e oposicionistas. Revoltado, ao término da sessão, o deputado Jorge Bittar (PT-RJ), que no início da CPI ficou conhecido como o mais agressivo dos interrogadores, partiu em direção à mesa e, dedo em riste, insultou o presidente Delcídio Amaral (PT-MS), chamando-o de Judas, canalha e fdp, por ter se mantido firme na votação do relatório e não ter permitido discursos e votações de destaques. Delcídio explicou que cumpriu o regimento. Os petistas recorreram ontem à noite mesmo à Mesa da Câmara, única casa que funcionava àquela hora, num texto assinado pelo deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP). Alegaram que Delcídio agiu de forma "intempestiva e autoritária", ao não aceitar a votação de destaques em separado depois da aprovação do relatório de Serraglio. "Contrariamente à lógica do processo legislativo, a decisão ficaria restrita ao tudo ou nada", diz o recurso. O PT pediu a anulação da votação e a realização de uma nova sessão para examinar o relatório final. "A decisão foi completamente anti-regimental. Eles não quiseram votar os destaques em separado", reclamou o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante, alegando que esta é uma "jurisprudência reconhecida" para CPIs. Delcídio afirmou que está com a consciência tranqüila, decidiu não aceitar destaques na semana passada, avisou aos integrantes da CPI, mas não engoliu os insultos. Na sua avaliação, cumpriu o regimento, o relatório de Serraglio venceu e o PT não teve votos para aprovar seu relatório paralelo. Só quando percebeu isso, resolveu apresentar destaques, já vetados há uma semana. "O PT perdeu no voto. Não tenho o que fazer", defendeu-se, confirmando que vai protocolar uma representação no Conselho de Ética da Câmara contra o deputado Jorge Bittar. Além de confirmar a existência do mensalão, o relatório de Serraglio reiterou a parceria entre a Visanet e o Banco do Brasil como a principal financiadora do esquema do valerioduto. Serraglio também manteve o indiciamento do ex-deputado José Dirceu, do ex-secretário de comunicação e gestão estratégica, Luiz Gushiken, e do ex-presidente do PT, José Genoino, pontos que o PT queria suprimir. Subscritor do recurso do PT, o deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP) denunciou que "Serraglio retirou do texto os dois maiores proprietários de franquias dos Correios em São Paulo, suspeitos de movimentar ilegalmente mais de R$ 8 milhões. Excluiu também do indiciamento o vice-governador de Minas, Clésio Andrade. Mas manteve nomes contra os quais não há provas concretas. Eu quero que ele me explique qual o critério usado", cobrou, aos gritos, embora estivesse falando de assuntos muito debatidos. Serraglio foi bastante festejado pela oposição e chegou a ser levantado nos ombros. "O relatório do PT foi uma tentativa de não aprovar o meu. Foi um bode na sala para me tomar tempo, como realmente tomou. Estou com a consciência tranqüila, não tergiversei nem procurei prejudicar ninguém". O relator acredita que o resultado final da CPI refletiu o que a sociedade espera do parlamento. "Foi a vitória da investigação concreta". O gabinete do senador Delcídio serviu como base para todas as reuniões que aconteceram ao longo do dia. Na esperança de um consenso que evitasse a briga política que vai continuar, uma comissão de sistematização foi formada para tentar incorporar alguns dos votos em separado no relatório de Serraglio. Parlamentares governistas e de oposição entravam e saíam do gabinete, indicando que o acerto era cada vez mais improvável. No meio da tarde, o jogo político foi sacramentado, quando os deputados Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA) e Eduardo Paes (PSDB-RJ) rejeitaram a continuidade das conversas, alegando que os governistas queriam melar o relatório. "Não dá, eles querem provar que não houve mensalão, isso é brincadeira", protestou ACM Neto. Com os ânimos acirrados, os integrantes da CPI foram para o plenário da Comissão votar o relatório de Serraglio. A bancada do PMDB na Comissão deixou para votar por último. Quando foram chamados novamente, o relatório já estava aprovado com 17 votos - dois a mais que o necessário.