Título: 2004 mais forte "segura" PIB de 2005
Autor: Raquel Salgado, Chico Santos e Vera Saavedra Durão
Fonte: Valor Econômico, 30/11/2004, Brasil, p. A-3

Os resultados do PIB do terceiro trimestre devem confirmar, hoje, a manutenção de um ritmo forte de atividade econômica. Os analistas esperam que este seja o 5 trimestre seguido de crescimento, o que reafirma a previsão de uma alta do PIB muito próxima a 5% no ano. Esse resultado, contudo, ainda é insuficiente para elevar as estimativas para 2005. Os analistas ouvidos pelo Valor esperam um terceiro trimestre com crescimento entre 1,0% e 1,5% sobre o segundo (com ajuste sazonal) e entre 6% e 7% sobre igual período de 2003. O final de ano aquecido, contudo, não é garantia de reposição forte de estoques. O risco está na política monetária do Banco Central, cada vez mais austera. Júlio Sérgio Gomes de Almeida, diretor-executivo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), espera um PIB de 3% para o ano que vem, apesar de um PIB potencial de 5%. Segundo ele, há dois fatores de constrangimento: o endurecimento da política do BC, com alta gradual dos juros, e uma menor expansão mundial, com provável desaceleração dos EUA e da China. "Esse fator irá impactar o comércio internacional e as exportações dos países emergentes, como o Brasil, não devem apresentar o mesmo dinamismo deste ano", explica o diretor. Com juros e custo do crédito mais altos, as molas propulsoras da economia brasileira perdem força. Em contrapartida, com a recuperação da renda e do emprego, a participação do mercado doméstico cresce. Assim, setores mais ligados à demanda interna e mais empregadores, como o ramo da alimentação, terão destaque em 2005, avalia o Iedi. A Convenção S.A. espera um PIB de 3,5% em 2005. Para o terceiro trimestre, a previsão é de 1,1% sobre o segundo com ajuste sazonal. "Neste ano, o país cresce pelo menos 5%", afirma Fernando Montero, economista-chefe da corretora. Na sua opinião, o desempenho da economia será ditado pela atuação do BC. "Vamos crescer o que ele deixar", enfatiza. Então, caso a demanda esteja aquecida, mas a oferta não siga o mesmo ritmo, o BC subirá juros para conter consumo e inflação. De certa forma, pondera Montero, o crescimento mais forte de 2004 "antecipou" parte do que aconteceria em 2005. O economista-chefe do Citibank, Carlos Kawall, atenta para outro fator importante para o PIB deste ano e que não deve estar tão presente em 2005: a demanda reprimida por bens duráveis. Ao contrário do que avalia o diretor do Iedi, a recuperação da produção destinada ao mercado interno não deve compensar a perda de participação das vendas de duráveis e bens de capital, complementa Giovanna Rocca, do Unibanco. Por isso, a economista irá revisar para baixo a previsão de crescimento do PIB no próximo ano, atualmente em 4%. e para cima a deste ano, ainda em 4,2%. Na semana passada, o economista Dionísio Dias Carneiro, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), previu que o crescimento do país pode chegar a 6% em 2005, número que não é atingido desde 1986, ano do Plano Cruzado, quando o PIB cresceu 7,49%. "Acho muito difícil o Brasil crescer 6% em 2005. O poder de compra do consumidor está 20% abaixo do que era em 1998 e vai demorar a se recuperar. Então, a demanda interna ainda segura o crescimento", avalia Bráulio Borges, da LCA Consultores. O aumento da taxa de juros norte-americana, ainda que lento, e a provável redução do crescimento chinês seriam também pontos contrários a otimismos exagerados sobre o desempenho brasileiro em 2005. Ainda assim, a LCA deverá rever para cima sua previsão, de 3,8% para entre 4% e 4,2%. Juan Jansen, economista da Tendências, não aposta em mais de 3,5% para o próximo ano. A previsão anterior da consultoria era de 4%, mas foi rebaixada diante da recente alta dos juros internos. Jansen disse que o terceiro trimestre deste ano será o último de crescimento acelerado, com 6,4% sobre o mesmo período de 2003 e 1,3% sobre o trimestre anterior. Com o quarto trimestre em desaceleração, o ano fecha em 4,9%. A indústria crescerá 6% neste ano, fazendo com que o PIB total feche em torno de 4,7% na avaliação de Alex Agostini, da GRC Visão (associação da GlobalInvest com a RC Consultores). Para 2005 a provisão da consultora é de 3,6%. "Acho difícil manter um crescimento acima de 4% por conta de um cenário internacional que começa a se mexer desfavoravelmente", disse Agostini. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mantém sua projeção de 3,8% para a alta do PIB no ano que vem. Para este ano, o Ipea trabalha com uma taxa de expansão do PIB entre 4,6% a 5%. A estimativa do Ipea para o produto real do terceiro trimestre do ano, é de mais 0,7% na comparação com o segundo trimestre e de 5,6% ante o mesmo período do ano passado. Estevão Kopschitz, responsável pelos estudos de atividade, destaca que este ano o crescimento da economia está sendo puxado por um movimento de ocupação da capacidade instalada das indústrias.