Título: Garotinho frustra manobra pemedebista
Autor: Raquel Ulhôa
Fonte: Valor Econômico, 06/04/2006, Política, p. A10

O ex-governador Anthony Garotinho obteve ontem nova vitória sobre os pemedebistas que se opõem à sua candidatura à Presidência da República. Depois de uma reunião tensa, que durou mais de três horas e foi marcada por trocas de agressões verbais e ânimos exaltados, a Comissão Executiva Nacional do partido rejeitou a realização de uma pré-convenção nacional em maio, proposta dos governistas, que decidiria pela conveniência ou não da candidatura própria. A Executiva também não apoiou o lançamento feito pelo presidente do PMDB em São Paulo, Orestes Quércia, do nome do ex-presidente Itamar Franco para disputar o Palácio do Planalto. Mesmo assim, Quércia saiu de lá garantindo que Itamar vai disputar a convenção nacional, em junho. Aliados do ex-presidente negam que ele tenha essa disposição. Itamar é candidato ao Senado e só disputaria o Palácio do Planalto por um eventual apelo do partido. "Por ora, o golpe foi abortado", afirmou Garotinho. Na reunião, ele disse que viajou o país todo e foi escolhido por 14 mil eleitores do PMDB, e não aceitaria o papel de "palhaço". Afirmou que ninguém na Executiva tinha "autoridade moral" para vetar seu nome. E acusou Quércia de não estar autorizado pelo diretório do partido de Minas Gerais para lançar Itamar. Anunciou que, se houvesse pré-convenção em maio, recorreria à Justiça para tentar anulá-la. Ao final, a proposta de realizá-la recebeu apenas cinco dos 16 votos da Executiva. A vitória de Garotinho, no entanto, pode ser temporária. Os governistas não desistiram de tentar sepultar sua pré-candidatura antes da convenção oficial destinada à homologação dos candidatos. Segundo o calendário eleitoral, as convenções partidárias devem ser realizadas entre 10 e 30 de junho. A próxima batalha de Garotinho será uma reunião com os candidatos do partido a governador e os presidentes dos diretórios estaduais, que deve acontecer no dia 18 ou 19 de abril. Nesse encontro, o ex-governador poderá ser pressionado a desistir da disputa, para que o PMDB possa se coligar livremente nos estados. A candidatura própria inviabiliza a maior parte das alianças que o PMDB está fazendo nos estados com o PSDB, o PFL, o PT e outros. Isso, por causa da regra da verticalização, que proíbe coligações eleitorais nos estados entre partidos adversários na disputa pela Presidência. Com candidato a presidente, restaria ao PMDB fazer alianças brancas nos estados com esses partidos. "Não dá para falar de candidatura própria com as coligações que estão sendo montadas. Enquanto alguns estão tratando de ficção, a realidade política é outra. Não é possível continuar brincando e ignorando o que está acontecendo nos estados. Hoje, as alianças todas conflitam com a aliança nacional. Se o partido decidir pelo projeto nacional, isso inviabiliza as alianças estaduais. Vamos parar de brincar", afirmou o deputado Jader Barbalho (PA), que votou a favor da pré-convenção. Os outros foram o senador Ney Suassuna (PB) - com direito a dois votos - e os deputados Geddel Vieira Lima (BA) e Eliseu Padilha. Ao tentar defender o senador Pedro Simon (RS), que discutia com Geddel, Garotinho foi repelido pelo baiano, que o chamou de "cristão novo, que acabou de chegar ao PMDB". Na reunião, Quércia disse que Itamar é a "melhor alternativa" do partido para a Presidência e que ele estaria disposto a aceitar. Disse que sua idéia tem apoio dos governadores Germano Rigotto (RS) e Luiz Henrique (SC), do ex-governador Jarbas Vasconcelos (PE) e dos senadores Renan Calheiros (AL) e José Sarney (AP). Foi contestado por Simon, que garantiu apoio de Rigotto a Garotinho. O PMDB de Minas Gerais negou apoio a Itamar e decidiu homologar rapidamente o nome de Garotinho. A governadora do Rio, Rosinha Matheus, fez um discurso emocionado. "Não estamos em busca de cargos. Estamos em busca do nosso sonho", disse, lembrando que, com sua permanência no governo, Garotinho ficou impedido de disputar outros cargos nesta eleição. A governadora citou que todas as pesquisas de intenção de voto mostravam que ela seria eleita para o Senado e Garotinho, para a Câmara dos Deputados, além de contribuir para a eleição de outros seis ou sete deputados federais. "Escolhemos o caminho mais estreito", afirmou. No fim da reunião, o presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP), defendeu a validade "política" da consulta que escolheu Garotinho pré-candidato. Segundo ele, o PMDB precisa escolher qual é sua prioridade: o projeto nacional ou o fortalecimento nos estados. Repetindo citação feita por Simon durante a reunião, disse que "o partido precisa decidir se quer ser um partido nacional ou de capitanias hereditárias".