Título: FHC insiste em PMDB na chapa tucana
Autor: Cristiane Agostine
Fonte: Valor Econômico, 06/04/2006, Política, p. A11

Um dos principais caciques do PSDB, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso elogiou a tentativa de aproximação do partido com o PMDB para disputar a eleição presidencial. O tucano reconheceu que o apoio pemedebista ainda não é certo por causa da pré-candidatura do ex-governador do Rio Anthony Garotinho e tratou com pouco apreço a pré-candidatura de Itamar Franco. Geraldo Alckmin, candidato tucano à Presidência da República, esforça-se em trazer para sua chapa os pemedebistas e aumentou a força da atração com a escolha do articulador político da campanha, senador Sérgio Guerra (PSDB-PE), com bom trânsito entre os pemedebistas. No entendimento de Fernando Henrique, a atitude de Alckmin é a correta. "É o que tem que fazer mesmo. tem de conversar, desde que haja um programa (comum) ", disse ontem, em São Paulo, depois de participar da gravação do programa de Jô Soares, na TV Globo. O PMDB ainda não definiu se terá candidato próprio à Presidência. Mesmo depois de uma consulta informal a filiados, que indicou maior apoio a Garotinho em relação ao governador gaúcho Germano Rigotto, na terça-feira o presidente do diretório paulista, Orestes Quércia, lançou Itamar Franco à disputa. Fernando Henrique, quando questionado sobre a candidatura do ex-presidente, riu e foi categórico: "É um problema do PMDB. Itamar já foi presidente, quer ser outra vez. Gostou, né?" Entre um evento e outro de sua agenda repleta de atividades, o dirigente tucano aproveita para tecer críticas ao governo e para divulgar os dois livros que escreveu sobre sua experiência no Palácio do Planalto. Ontem, participou pela manhã de uma palestra sobre política externa. De tarde, em uma hora e meia de entrevista a Jô Soares, FHC atacou, sem citar nomes, aqueles que quando ocupam um cargo no governo "acham que o poder é infinito" e disse que quem não se pode fazer do poder uma forma "de subir na vida". "Pode ser pobre na origem, mas chega lá em cima e vira outra coisa. Aí é um perigo. Passa a fazer coisas que não faria". O dirigente tucano culpou o PT pela bipolarização com o PSDB e classificou as alianças do governo como "política de balcão". Sobre as maiores críticas feitas ao seu governo -privatizações e compra de votos para aprovar a reeleição- o ex-presidente disse que a venda de empresas estatais era essencial e negou que seu partido tivesse participado de esquemas de compra de votos , apesar de reconhecer que tal prática existiu. Em diversos momentos da entrevista, citou o ex-prefeito de São Paulo, José Serra, de forma carinhosa e com muitos elogios, mas Alckmin ficou de fora das citações.