Título: Confirmada primeira queda da área plantada desde 1996
Autor: Mauro Zanatta
Fonte: Valor Econômico, 06/04/2006, Agronegócios, p. B16
Pela primeira vez nas últimas nove safras, os produtores brasileiros semearam, em 2005/06, uma área de grãos inferior à registrada na safra anterior. Puxada pela forte redução de 2,08 milhões de hectares nas lavouras de soja, arroz, trigo, algodão e milho, a queda interrompe uma expansão impulsionada pela desvalorização do real em relação ao dólar, em 1999. Segundo levantamento divulgado ontem pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), os grãos ocuparam, no total, 46,969 milhões de hectares no ciclo atual, ante 49,055 milhões em 2004/05. Sem o estímulo dos preços e do câmbio favorável, os produtores desistiram não só de incorporar novas áreas, mas também de manter os níveis de produção. "Vou deixar 40% da área sem plantar na safrinha", diz Gemiro Carafini, de Mineiros (GO). Sob o governo Lula, os constantes problemas climáticos derrubaram a colheita de grãos. Mas a inédita retração de 4,3% na área plantada é resultado direto das políticas macroeconômicas do governo federal. À espera de um pacote de socorro com renegociações de dívidas e recursos para a comercialização, os agricultores apontam uma opção do governo pelo controle da inflação e sua lentidão ao financiar a sustentação das cotações agrícolas no auge da venda da safra passada. "Eles só pensam nas eleições", afirma o produtor Leonir Capitani, de Sorriso (MT). A área das cinco culturas (soja, arroz, trigo, algodão e milho) recuou em todos os Estados do Centro-Sul, que detêm, juntos, 75,6% da produção nacional. De 1999 para cá, a desvalorização do real desatou as amarras do câmbio e fez explodir a produção interna e as exportações do agronegócio praticamente na mesma área plantada. "Ganhamos dinheiro, mas reaplicamos quase tudo na produção, com tecnologia, máquinas e áreas novas", diz o produtor Adilton Sachetti, de Rondonópolis (MT). A produção de grãos, estagnada na faixa média de 72,5 milhões de toneladas nos oito anos-safra desde 1990/91, saltou para 82,4 milhões de toneladas na temporada seguinte, ultrapassou a marca de 100 milhões de toneladas em 2000/01 e bateu o recorde com 123,2 milhões de toneladas em 2002/03. Já a área subiu lentamente de 35 milhões de hectares em 1997/98 para 43,9 milhões em 2002/03. Depois, entusiasmados pelos melhores preços da história na soja e pelo câmbio favorável, deu um salto para 47,4 milhões em 2003/04 e quebrou novo recorde na safra passada. Tudo embalado com muita tecnologia nos insumos e maquinários modernos. Os novos números da Conab confirmam o desestímulo ao sinalizarem que a safra 2005/06 deverá render 121,49 milhões de toneladas de grãos. "Mas isso pode cair mais umas 500 mil toneladas por causa da estiagem e das geadas sobre feijão e milho no inverno", admitiu o presidente da Conab, Jacinto Ferreira. O resultado reflete a redução na produção de arroz, feijão, trigo e algodão em relação à safra passada. A soja também frustrou as previsões e deve chegar apenas a 55,7 milhões de toneladas por causa dos efeitos da estiagem e da ferrugem asiática. No algodão, a produção recuou 18% e as importações devem ser retomadas, chegando a 130 mil toneladas. As compras externas de trigo também vão subir a 6,1 milhões de toneladas. Os preços baixos do arroz provocaram redução de 11% na produção, sobretudo no Centro-Oeste.