Título: Dólar devolve, com sobra, alta pós-Palocci
Autor: Luiz Sérgio Guimarães
Fonte: Valor Econômico, 06/04/2006, Finanças, p. C2
O dólar já devolveu com sobras toda a valorização experimentada na semana passada por causa da troca de comando no Ministério da Fazenda e das incertezas sobre mudanças no Banco Central e nas políticas monetária e cambial. A agitação, embora reforçada por temores externos relativos aos próximos passos monetários do Federal Reserve (Fed), não foi muito intensa. O dólar acumulou alta de 2,79% nos primeiros dias da semana passada. Mas a garantia de que nada será alterado na política econômica fez a moeda retomar a tendência de baixa. Tanto que, com a queda de ontem, a moeda passou a exibir saldo negativo de 3,61% após cinco baixas consecutivas. Fechou ontem a R$ 2,1340, quando, no ápice da crise (dia 29) foi cotado a R$ 2,2140.
-------------------------------------------------------------------------------- Moeda perde 3,61% em cinco pregões seguidos --------------------------------------------------------------------------------
Apesar de superadas as inquietações mais sérias, a tendência para o dólar ainda não está muito clara. Surpreendeu ontem o tamanho das posições compradas em dólar que os bancos carregaram em março. No final do mês passado, as instituições estavam com US$ 5,6 bilhões em caixa. O Banco Central comprou apenas US$ 3,13 bilhões do saldo positivo de US$ 7,99 bilhões obtido pela balança cambial. O restante foi absorvido pelos bancos. Posições compradas dessa magnitude só se justificam se a expectativa for de que algo muito grave irá ocorrer no futuro - tão grave que anule o prejuízo financeiro imposto pelo pesado custo da Selic de 16,50%. Os bancos sempre agem por antecipação, nunca por adaptação. Mega-posições compradas significam que o mercado está com o dedo no gatilho, prestes a disparar. Contra quem? Um disparo contra Lula não faz sentido, dada as reiteradas garantias de que a política conservadora irá com ele até o fim. É claro que o mercado não gosta da ampliação eleitoral dos gastos públicos, mesmo que o governo consiga cumprir a meta de superávit primário de 4,25% do PIB. Se o gasto público expandir a economia a ponto de exigir do BC uma interrupção do desaperto monetário, pior ainda para as posições compradas, já que o seu custo ficará elevado por mais tempo. Os cofres lotados de dólares só se justificam como preparação para eventual redução das posições de capital estrangeiro em ativos brasileiros. O comportamento do risco-país revela que o cuidado não é excessivo. Em março, ele avançou 6,33%, de 221 para 235 pontos-base. E não há alívio na alta neste começo de abril. Fechou ontem a 239 pontos-base. Não se trata de um repique da aversão a risco, mas os grandes fundos internacionais estão alterando os seus portfólios. A farra que consistia em tomar crédito a juros negativos para comprar bônus de emergentes já acabou. As novas aplicações, muito mais comedidas, são feitas com recursos próprios ou de clientes. É até possível que os bancos devolvam ao longo de abril parte das vultosas posições compradas. Isso se soma ao fluxo cambial normal, já superavitário, para trazer o dólar para baixo. Mas não se imagina quedas vertiginosas. Nos dois últimos dias, o movimento de baixa se tornou muito lento com a aproximação do piso de R$ 2,10. Dólar estabilizado nesse degrau ajuda o BC a controlar a inflação e tira peso da política monetária. O IPC FIPE fechado de março, 0,14%, levemente abaixo da estimativa mais otimista dos analistas (entre 0,15% e 0,30%) puxou os juros futuros para baixo. A queda foi generalizada no pregão de DI futuro da BM&F. O contrato para a virada do ano cedeu de 14,87% para 14,83%. E o swap de 360 dias recuou de 14,75% para 14,70%, novo piso histórico. Se a taxa cair mais 0,05 ponto, o juro real (o que supera a projeção de IPCA, de 4,25%, para o mesmo período) voltará ao patamar de um dígito. Hoje o mercado monetário irá operar na expectativa da divulgação, amanhã, do IPCA fechado de março. A mediana Focus prevê 0,47%. Trata-se do dado que falta para o mercado fechar o consenso para o próximo Copom, dia 19.