Título: BID melhora condições de crédito para enfrentar a "concorrência"
Autor: Ricardo Balthazar
Fonte: Valor Econômico, 06/04/2006, Finanças, p. C2

A decisão de ampliar o envolvimento do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) com a iniciativa privada permite aproximar suas condições de financiamento das que já são oferecidas por outras agências multilaterais de crédito que trabalham na América Latina, como a Corporação Financeira Internacional (IFC), do Banco Mundial. O presidente do banco, Luis Alberto Moreno, está preocupado com o risco de perder importância na região, na medida em que o Brasil e os demais países que controlam a instituição encontram novas fontes de capital externo para financiar obras e outros projetos. O BID tem hoje uma carteira de US$ 1,5 bilhão de empréstimos para o setor privado. A carteira da IFC na região é de US$ 1,8 bilhão. O BID deixou seus sócios na mão várias vezes nos últimos anos. Em 2002, o Chile pediu garantias para financiar a construção de uma estrada de US$ 850 milhões, mas os limites operacionais do BID impediram sua entrada no projeto, conforme relatório apresentado pela administração do banco durante sua reunião anual, que terminou ontem em Belo Horizonte. Alguns dos limites do banco foram revistos no fim do ano passado. O teto para operações individuais, que era de US$ 75 milhões, passou para US$ 400 milhões em casos especiais. O banco agora pode financiar até 40% dos custos totais de novos projetos e até 50% no caso de projetos de expansão, condições melhores que as oferecidas pela IFC em alguns países da região. Em Belo Horizonte, os dirigentes do banco aprovaram a mudança mais importante. O BID agora poderá usar 10% do seu capital para emprestar recursos a empresas públicas e privadas de qualquer setor econômico sem a exigência de garantias do governo central. Hoje esse dinheiro só pode ser usado para projetos de infra-estrutura e operações de comércio exterior e no mercado de capitais. O banco tem cerca de US$ 3,7 bilhões disponíveis para essas operações. Nos próximos meses, a instituição vai adaptar suas políticas operacionais às novas regras e definir com os vários países que o controlam os setores que serão tratados como prioritários. "Queremos entrar em mais projetos e vamos crescer paulatinamente, sem pressa, mas sem pausa", disse Moreno. A principal dificuldade que ele terá está na estrutura administrativa do banco, que pode demorar anos para concluir a análise de um projeto. Num seminário organizado pelo BID em Belo Horizonte, o presidente da Construtora Norberto Odebrecht, Marcelo Odebrecht, disse que esperou um ano e meio para que o banco definisse a estrutura financeira de uma obra da empreiteira no Peru. "É muita burocracia", disse. Parte da demora pode ser explicada pelo tempo que a instituição gasta analisando o impacto ambiental dos projetos e a maneira como eles afetam comunidades indígenas, fruto de pressões que o BID sofre de organizações não-governamentais e de países europeus que detêm parte relevante de seu capital.