Título: Analistas recomendam compra de Petrobras
Autor: Cotias, Adriana
Fonte: Valor Econômico, 04/05/2006, EU & Investimentos, p. D2

Em pleno imbróglio boliviano, os analistas mantêm recomendação de compra para as ações da Petrobras. Petróleo em alta no mercado internacional, aumento de produção e preços atrativos em relação às concorrentes globais colocam os papéis da petrolífera na preferência das principais casas de investimentos. A leitura preliminar é de que a iniciativa do governo de Evo Morales, de nacionalizar os ativos de petróleo e gás naquele país, terá impacto limitado na geração de caixa da estatal brasileira. Na Carteira Valor de maio, publicada ontem, nove entre dez corretoras participantes sugeriram a inclusão de Petrobras PN (sem direito a voto) no portfólio.

"É um papel obrigatório na carteira, ainda mais após o petróleo ter atingido um novo nível de preço, na casa dos US$ 70, o que já deve ter algum reflexo nos resultados da empresa no primeiro trimestre", diz o chefe de pesquisa e estratégia da Ágora Senior, Marco Melo. Conforme calcula, a crise desencadeada pelo governo boliviano terá, no máximo, um impacto de 1,5% sobre o valor de mercado da Petrobras, movimento que deve ser facilmente assimilado pelo mercado.

Ontem, na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), as ações PN caíram 0,21%, para R$ 46,95. As ordinárias (com direito a voto) fecharam a R$ 52,80, com perda de 0,09%. Na terça-feira, primeiro dia de negócios após as medidas anunciadas por Morales, os papéis PN tiveram alta de 1,77%, cotados a R$ 47,05, enquanto os ON avançaram 3,41%, para R$ 52,75.

Mas é justamente nos momentos de baixa de Petrobras que os analistas da Merrill Lynch enxergam oportunidades de compra. Para o American Depositary Receipt (ADR, recibo de ações negociado na bolsa de Nova York) de preferenciais de Petrobras, o preço-alvo estimado é de US$ 110, o equivalente a R$ 63,25 para as ações PN no Brasil e que embute um potencial de valorização de 34,4%, considerando-se a cotação atual na bolsa. Vale lembrar que esses cálculos de preço de ações levam em conta as projeções de resultados para a empresa, mas dependem das condições de mercado e de procura pelos papéis para ser atingidos.

Relatório assinado por Frank McGann, da Merrill, cita que as ações da estatal brasileira vêm sendo negociadas a 6,4 vezes o EV/Ebitda (a relação entre o valor da empresa e a geração de caixa operacional, aqui ajustada à dívida) e a estimativa é que chegue ao fim do ano a 8,5 vezes. Tal valorização colocaria o indicador da petrolífera brasileira em linha com a gigante russa Lukoil e com um pequeno prêmio em comparação à média do setor em mercados emergentes. A avaliação é de que o forte crescimento de resultados justificaria que Petrobras fosse negociada com múltiplos acima dos pares globais.

Marcos de Callis, chefe de análise da Itaú Corretora, também considera que Petrobras vem sendo negociada com desconto em relação às concorrentes globais e acrescenta que o aumento da produção e o petróleo em alta compõem um mix favorável à companhia. Ele cita que aos 180 mil barris extraídos da Plataforma 50 (P-50) serão acrescidos mais 160 mil barris de outras três plataformas que entrarão em operação neste ano. Assim, considera que o único episódio com potencial de prejudicar o valor das ações seria a cotação do petróleo recuar para a casa dos US$ 60. Por ora, o seu preço-alvo para a ação PN é de R$ 66,80.

Na Bolívia, a Petrobras tem dois grandes campos de gás e duas refinarias que produzem 60 mil barris por dia e suprem praticamente toda a demanda de combustíveis e lubrificantes do país. A petrolífera ainda mantém um gasoduto de 431 quilômetros que interliga seus campos ao início do gasoduto Bolívia-Brasil, conforme descreve o analista Luiz Caetano, da corretora Banif Primus. Ele estima que os campos na Bolívia representem 2,8% das reservas totais de Petrobras. "A medida do governo boliviano é muito negativa para o Brasil, mas traz perdas pequenas para a Petrobras, de reservas ou de ativos."

Para Lika Takahashi, da Fator Corretora, ainda que a Bolívia responda por uma parcela pequena na geração de caixa da Petrobras, o episódio traz incertezas sobre a remuneração dos investimentos realizados no país. Em uma década, a Petrobras investiu US$ 1,5 bilhão. Mesmo assim, ela mantém indicação de compra para Petrobras PN, com um preço-alvo de R$ 58,85.