Título: Em caso de cisão, Varig já tem plano de atuação no exterior
Autor: Vilella, Janaina
Fonte: Valor Econômico, 04/05/2006, Empresas, p. B3

A consultoria Alvarez & Marsal, encarregada da reestruturação da Varig, já desenhou um plano de vôo para a "Varig Internacional", caso ela seja desmembrada da chamada "Varig Doméstica", que concentraria as rotas nacionais da empresa. A cisão da companhia conta com o aval do governo, mas ainda precisa do sinal verde dos credores. A estratégia encontrada para tentar reverter a perda de tráfego de receita alta (high-yield) para as concorrentes internacionais seria a otimização das rotas, com foco nos passageiros executivos.

Com base nesse plano, a Varig Internacional cancelaria inicialmente três freqüências de vôos para América do Sul (Santa Cruz de La Sierra, Assunção e Montevidéu) e outras três para a Europa (Copenhague, Lisboa e Paris). Outros destinos considerados estratégicos para companhia, como Munique e Los Angeles, nos Estados Unidos, teriam freqüências de vôos ampliadas. As rotas com destino para Londres, Miami, Nova York e Frankfurt, por exemplo, continuariam sendo operadas pela Varig.

"Vamos trabalhar com linhas mais rentáveis. Meu foco é o business client (cliente executivo). Esse cliente paga tarifa cheia e precisa de um vôo disponível a toda hora. Por isso que as rotas que não forem estrategicamente importantes para o meu modelo de operação serão canceladas", disse ao Valor o diretor da Alvarez & Marsal, Marcelo Gomes. Hoje 16 aeronaves operam em rotas internacionais da Varig. A meta é chegar a 19. No mercado doméstico, a frota estimada é de 36 aviões.

A proposta da consultoria, ainda preliminar, aponta que "a atuação no mercado exclusivo de turistas requer grandes volumes de tráfego, de forma a compensar a baixa tarifa, a exemplo da estratégia adotada pela TAP". "Tendo em vista que a Varig não possui a mesma capilaridade da TAP dentro da Europa, seria mais difícil trabalhar em cima de grandes volumes de tráfego".

O resultado negativo da Varig em alguns mercados se deve, segundo o documento, à deterioração do produto, causada por vôos diurnos, baixa regularidade, má condição da frota e falta de pontualidade. Gomes, da Alvarez & Marsal, ressalta que o foco nos passageiros executivos reforça a necessidade de operações noturnas, com utilização em média de duas aeronaves. Mas como 14 dos 60 aviões estão no chão, a empresa acabou sendo forçada a também operar vôos diurnos.

"Por enquanto, vou operar com a frota que tenho, que me permite alguns vôos noturnos e outros diurnos. No médio prazo, com a recomposição da frota, poderei me concentrar nas operações noturnas", explicou Gomes.

O plano da consultoria é usar parte dos recursos obtidos com o leilão da "Varig Doméstica" na reforma das aeronaves. A "nova Varig", sem dívidas, seria leiloada em 60 dias a partir da aprovação dos credores, na assembléia marcada para segunda-feira. Até agora, três grupos manifestaram interesse em participar da disputa pela "nova Varig". As dívidas ficariam na Varig Internacional, que permaneceria em recuperação judicial.

No mercado doméstico, os seis destinos que a Varig deixou de operar - Joinville, Navegantes e Chapecó (SC), Maringá e Londrina (PR) e Passo Fundo (RS) - estão informalmente divididos entre as concorrentes. A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), no entanto, ainda não oficializou a transferência de "slots" (horários) da Varig para outra companhia. A TAM pode ampliar a oferta de vôos para Navegantes e Joinville. A Gol pode fazer o mesmo nas rotas com destino a Maringá e Londrina. A OceanAir vai inaugurar vôos para Passo Fundo (RS), cidade antes atendida apenas pela Varig, em 8 de maio e poderá ampliar a oferta para Chapecó. Ontem, a OceanAir disse que seu presidente, German Efromovich, deixará o cargo para presidir o conselho da empresa e será substituído por Carlos Ebner, ex-diretor da Varig Cargo. (Colaborou Roberta Campassi, de São Paulo)