Título: FHC apela por agenda de consenso depois de 2010
Autor: Costa, Raymundo
Fonte: Valor Econômico, 08/07/2009, Política, p. A9

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso propôs que governo e oposição, após as eleições de 2010, tratem do "pós-Real", uma "agenda de consenso" do que precisa ser feito após a estabilidade econômica.

"Não se trata de pacto. Não é uma união política", disse FHC, ao deixar o plenário do Senado, onde, minutos antes, discursara na sessão em homenagem aos 15 anos do Plano Real. "É uma união de ideias, uma busca de consensos nacionais - é outra coisa", explicou.

No discurso, FHC alternou momentos de ironias com outros de elogios ao seu sucessor - PT e PSDB travam uma disputa nos bastidores sobre a estabilidade econômica, com os tucanos reivindicando o fim da inflação e os petistas a estabilidade com distribuição de renda.

Na parte das estocadas, mais uma vez FHC lamentou a falta de reconhecimento de Lula dos benefícios proporcionados pelo Plano Real. Mas tratou de ressaltar - ao responder a uma pergunta - que seria injusto se dissesse que Lula estava "surfando" a onda do real.

"Eu não quero fazer o que o PT fez comigo. Ele seguiu quase tudo na política econômica e também fez as coisas dele. Ele tem que entender que uma Nação não é feita por um homem, mas é uma construção!".

"Vamos brigar nas eleições", disse Fernando Henrique, que imediatamente emendou: "Eu não, porque eu tô fora". Feito o esclarecimento, apelou: "Os que puderem vão brigar nas eleições, mas nessa briga o que nós não podemos é esquecer do fundamental, que é a formação da Nação", afirmou.

Para FHC, "uma Nação, para se formar requer certos consensos, certas convergências". O ex-presidente explicou que não se referia a acordos partidários. "Acordos partidários se fazem e se desfazem", disse o tucano, "as brigas eleitorais são partes do jogo democrático. Precisamos de uma coisa além disso".

Dado por aceito que há estabilidade, que os governos cumpriram sua parte, é preciso tratar do "pós-Real", ou seja, do que falta fazer para desenvolver o país, porque a estabilidade não é um fim em si mesma. Assim, no futuro - "e o futuro a que me refiro é o próximo ano" - a questão fundamental na opinião do ex-presidente será "efetivamente fazermos investimentos em infraestrutura", disse. "Não é fazer PAC. É muito mais do que isso", afirmou.

"Quando se vê os números do esforço público para o investimento produtivo, é muito pequeno", argumentou Fernando Henrique Cardoso. "E isso (investimento produtivo) não vai existir se não houver poupança. E nós não trabalhamos a formação da poupança. Nós trabalhamos sempre do lado da demanda: consumam mais!"

FHC foi interrompido três vezes por aplausos demorados. Uma delas foi quando pregou, entre o que falta ser feito, "uma nova sociedade onde, além de toda a arquitetura formal da democracia, nós tenhamos uma coisa simples, que é o respeito a lei. Sejamos iguais pelo menos no respeito a lei. A lei é igual para todos, não tem bom e mal", disse. Foi aplaudido, mas causou constrangimento ao presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP", que comandava a sessão.