Título: Especialistas brasileiros veem plano pouco factível
Autor: Moreira , Assis
Fonte: Valor Econômico, 08/07/2009, Especial, p. A14

Os mecanismos de estocagem de produtos agrícolas e de monitoramento das grandes oscilações dos preços das commodities podem colaborar para evitar disparadas das cotações, como as registradas particularmente em 2008, segundo especialistas ouvidos pelo Valor. A adoção dessas ferramentas, no entanto, ainda parece pouco factível, segundo essas mesmas análises.

"Quem vai pagar por isso [estocagem]?", questiona Pedro de Camargo Neto, presidente da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs). "Não existe estocagem sem custo. Tem que ser conversado como se vai arrecadar o dinheiro, senão o assunto vai ficar só na boa vontade".

O dirigente, mentor inicial, em 2002, do painel do algodão - que em 2008 levou o Brasil a obter na Organização Mundial do Comércio (OMC) o direito de retaliar os Estados Unidos devido a subsídios americanos ilegais aos produtores da fibra - acredita que a medida poderia ter como resultado um freio a novas disparadas dos preços dos produtos agrícolas. Essa não seria, de qualquer forma, a melhor maneira para o feito - e nem há garantia de sua eficácia.

"Historicamente, estoque é feito para regular preço em momentos de problemas climáticos, mas as experiências sempre começaram bem e acabaram mal. O que deveria haver mais é a abertura dos mercados. Mais comércio, sim, é que ajudaria a contrabalançar os preços em situações de choque de clima."

André Nassar, diretor-geral do Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais (Icone), acredita "não ser má" a ideia de criação de estoques internacionais, que contribuiriam para evitar altas bruscas de preços agrícolas. Ele, no entanto, também avalia ser pequena a viabilidade da proposta. "O mercado de alimentos não é como a Opep [Organização dos Países Exportadores de Petróleo], em que poucos países dominam a produção, combinam o que fazer e assim acontece. Em alimentos, se os responsáveis por 70% da produção segurarem seus estoques, os outros aumentam o plantio".

A possibilidade de maior rigidez no monitoramento da especulação nos mercados de commodities agrícolas é vista por Nassar, ainda que em tese, como sandice. "Não consigo ver como se vai resolver o problema da volatilidade com isso. O que se vai fazer, limitar o número de contratos negociados por fundo na bolsa de Chicago?"

Em 2008, em grande medida infladas pela ação dos especuladores, as commodities agrícolas atingiram suas maiores cotações na história. Ontem, o presidente da Comissão de Negociação de Futuros de Commodities (CFTC, na sigla em inglês), Gary Gensler, disse que a agência pode impor limites de posicionamento para "todas as commodities de oferta finita". A CFTC prevê limites para certos produtos agrícolas, mas não há teto contra especulação excessiva.