Título: Governadores do Sul reclamam do PT e resistem a palanque pró-Dilma
Autor: Jungerfeld , Vanessa
Fonte: Valor Econômico, 09/07/2009, Política, p. A4

O acordo patrocinado pelo Palácio do Planalto para preservar o cargo do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP) ainda não contaminou os Estados. As desavenças com o PT local, empurram os Estados do Sul para o palanque do pré-candidato do PSDB à Presidência da República, o governador de São Paulo, José Serra. Reunião do Conselho de Desenvolvimento e Integração Sul (Codesul) levou ontem a Florianópolis quatro governadores: Luiz Henrique (SC), André Pucinelli (MS), Roberto Requião (PR) e Yeda Crusius (RS). Tirando a governadora gaúcha, palanque natural do correligionário Serra, nos demais Estados a aliança governista em torno de Dilma deve enfrentar dificuldades.

"Historicamente tivemos e temos alianças com PPS, DEM, PSDB, PDT, PR e com o PP no nosso Estado, com participação, inclusive, de nomes desses partidos no primeiro, segundo e terceiro escalão do nosso governo", disse Puccinelli. "Quando recebi a visita do presidente (Luiz Inácio) Lula (da Silva) em janeiro, durante a viagem à Bolívia para a inauguração da rodovia bioceânica, ele pegou-me pelo braço e disse: nós queremos o PMDB junto conosco. E eu disse: o problema não sou eu. O problema está em alguns companheiros seus do PT que não engolem eu ter vencido em três disputas com eles e querem se opor a uma eventual quarta disputa", relatou Puccinelli.

O governador do Mato Grosso do Sul só decidirá seu rumo em março de 2010. No encontro com Lula, mostrou-se aberto ao diálogo - "O senhor chama os seus companheiros e aí poderemos sentar para conversar" - mas assessores próximos ao governador comentam que o embate entre PT e PMDB no Estado, cada vez mais acirrado, não permitirá aproximação de Puccinelli com a candidatura da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT).

Puccinelli atualmente enfrenta a oposição do PT na Assembleia Legislativa, além de travar batalha histórica com Zeca do PT, que já foi governador do Mato Grosso do Sul por duas vezes. Também pesa o fato de o governador de Pucinelli ter o DEM na vice, partido de oposição a Lula.

Em SC, a situação não é muito diferente. Além de o PMDB enfrentar atualmente a oposição dos deputados petistas na Assembleia Legislativa, o partido não quer abrir mão de candidatura própria e deverá ter embate com a senadora Ideli Salvatti, cotada como o nome do PT para o governo estadual. Luiz Henrique, que vai sair candidato ao Senado, tem feito diversas negociações para que o nome do partido ao governo estadual saia pela tríplice aliança que o reelegeu em 2006, na qual estão unidos PMDB, DEM e PSDB, o que descartaria apoio à Dilma.

"Temos aqui uma polialiança que é resultado dos partidos que hoje apoiariam tranquilamente a candidatura Serra. Essa é a decisão dos nossos partidos e que vai ser aprofundada lá na frente", disse Luiz Henrique. Em discurso ontem, o governador catarinense fez críticas ao governo federal. "Temos problemas que se acumulam pela falta de recursos. O governo federal tem uma política de concentração de recursos e esvaziamento dos cofres de Estados e municípios". Puccinelli foi mais suave, mas fez questão de relembrar que seu Estado recebeu pouca verba do PAC - "R$ 345 milhões enquanto o Sudeste recebeu bilhões".

No Paraná, apesar de Requião não tender a Serra, o governador duvida do potencial da candidatura Dilma. Apesar de próximo ao PT na Assembleia Legislativa, ter sido reeleito com a base petista e contar com três secretários do partido no seu governo - Planejamento, Agricultura e Ciência e Tecnologia - o governador também lança pontes ao PSDB local. Tem o apoio de alguns deputados estaduais tucanos, além de o partido contar com uma secretaria no seu governo, Nelson Garcia (Trabalho).

O PMDB de Requião pretende lançar candidatura própria ao governo do Estado. O PSDB paranaense, que aposta todas as suas fichas na candidatura do prefeito da capital, Beto Richa, sofreu um revés com as denúncias de caixa 2 em sua campanha. "Ele tende a apoiar o candidato que tenha compromisso com manutenção do porto público, da Sanepar e da Copel também públicas", disse um político próximo ao governador . Perguntado como avalia a candidatura de Dilma e se iria apoiá-la, Requião foi lacônico: "Estamos tratando de administração pública".