Título: Denúncia contra Fundação Sarney abre espaço para instalação da CPI
Autor: Agostine, Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 10/07/2009, Política, p. A4

Nova denúncia contra o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), agravou sua situação e permitiu que fosse marcada a instalação da Comissão Parlamentar de Inquérito da Petrobras, marcada para a próxima terça-feira, às 15 horas. Reportagem do jornal "O Estado de S.Paulo" revelou que a fundação privada criada por Sarney teria desviado recursos da Petrobras para empresas fantasmas. Face ao novo escândalo, senadores reforçaram o pedido de afastamento do presidente do Senado e o pemedebista, inclusive, poderá ser investigado na CPI da Petrobras.

Sarney criou a fundação para administrar um museu com o acervo do período em que foi presidente da República, deu seu nome a ela, é o presidente de honra da entidade e pediu ao ministro da Cultura, Juca Ferreira, à época secretário executivo, para que apressasse a liberação de recursos para a fundação. Mas, ontem, com a denúncia, justificou-se rapidamente em plenário: "Eu não tenho nenhuma responsabilidade administrativa naquela fundação". Horas antes, sua assessoria de imprensa divulgou nota na qual diz que o pemedebista "não tem responsabilidade" sobre a entidade.

A nova denúncia surgiu em um momento em que Sarney tentava aproximar-se da oposição e tentava minimizar as acusações que recaem sobre ele. Os líderes da base, reunidos na manhã de ontem, disseram que a iniciativa de instalar a CPI foi do presidente do Senado para evitar que PSDB e DEM recorressem ao Supremo Tribunal Federal para iniciar os trabalhos da comissão. "Retornaremos ao clima de normalidade", comentou o líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR). O anúncio da CPI foi ofuscado pela acusação que envolve Sarney e a Petrobras: do total de R$ 1,3 milhão repassado pela Petrobras, em 2005, para a fundação, a entidade teria desviado R$ 500 mil para empresas prestadoras de serviço com endereço fictício. O repasse foi aprovado pelo Ministério da Cultura.

"Esses fatos deverão chegar à CPI da Petrobras", comentou o senador Ávaro Dias (PSDB-PR). A irregularidade envolvendo a Fundação José Sarney foi criticada por senadores do DEM e do PSDB, que voltaram a pedir em plenário o afastamento temporário de Sarney. Para o líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), a presença do pemedebista na presidência mantém o Senado sob crise constante. "Trata-se de uma crise que precisa ter fim. Caso contrário acabará com a autoridade de Sarney sobre a Casa", disse. Agripino Maia (RN), líder do DEM - principal partido aliado de Sarney até antes da crise -, pediu investigações profundas, "que só serão possíveis" sem Sarney na presidência. Além do DEM e PSDB, P-SOL, PDT e PT pediram o afastamento do pemedebista, apesar de os petistas afirmarem que não pressionarão, de forma alguma, Sarney.

Pemedebistas tentarão impedir que a CPI investigue Sarney e os contratos firmados pela fundação e defendem que o Ministério da Cultura, comandado pelo PT, investigue supostas irregularidades. O PMDB pressionará o PT em busca de apoio a Sarney. Em troca, poderá evitar desgastes à Petrobras e ao governo federal na CPI. Ontem, em plenário, o petista Eduardo Suplicy (SP), que reiteradas vezes defendeu o afastamento de Sarney, pediu "cautela" nas investigações sobre o caso. Citou que o Instituto Fernando Henrique Cardoso também recebeu e recebe recursos da Petrobras e da Sabesp com base na Lei Rouanet, sem aprofundar-se nas denúncias envolvendo Sarney.