Título: Informe da ONU critica impunidade
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Fonte: Correio Braziliense, 03/06/2010, Mundo, p. 19

Relatora brasileira confirma vínculos entre políticos governistas e esquadrões paramilitares

A relatora especial das Nações Unidas para assuntos relativos à independência de juízes e advogados, a brasileira Gabriela Carina Knaul de Albuquerque e Silva, confirmou os vínculos entre políticos colombianos e os esquadrões paramilitares de extrema direita. ¿Durante os últimos anos, apareceram novos atores armados ilegais. Nesse sentido, foram estabelecidos vínculos entre dirigentes de grupos paramilitares e políticos, incluindo membros do Congresso¿, afirmou a relatora, que visitou a Colômbia no mês passado.

Em um informe para o Conselho de Direitos Humanos da ONU, apresentado ontem em Genebra, a brasileira citou o processo de 93 parlamentares e 22 sentenças emitidas pela Suprema Corte de Justiça. Gabriela também destacou os sumários contra 13 deputados, 12 governadores, 166 prefeitos e 58 vereadores. Ela precisou que esse foi o resultado dos casos investigados sobre a chamada parapolítica, ¿relativos a possíveis conexões de chefes de organizações paramilitares com membros do Congresso e do governo¿.

Sobre a extradição para os Estados Unidos de 18 membros dessas organizações, acusados de narcotráfico, a relatora lamentou que a medida tenha impedido que eles testemunhassem sobre esses crimes contra a humanidade e sobre suas relações com dirigentes políticos colombianos. ¿Apesar de a situação ter melhorado desde 2004, os assassinatos continuam. Percebe-se que há uma dificuldade de investigação dos crimes¿, afirmou Gabriela.

Entre outras acusações alusivas às investigações, Gabriela referiu-se aos agentes do Departamento Administrativo de Segurança (DAS, o serviço secreto colombiano) que perseguiram jornalistas, políticos e juízes. A relatora afirmou que essas atividades configuram ¿um ataque ao Judiciário e também aos advogados e defensores dos direitos humanos¿.

Para Marcelo Pollack, da Anistia Internacional, ¿as alianças dos grupos ilegais com políticos e empresários constituem provavelmente a ameaça mais séria para o Estado de Direito na Colômbia¿. Gustavo Gallón, membro da Comissão Colombiana de Juristas, disse que a relatora ¿foi muito crítica¿, pois há ¿impunidade, não há condenação de paramilitares¿ e se faz ¿espionagem dos serviços que dependem do presidente contra magistrados e advogados¿.

Eleições O jornal colombiano El Tiempo destacou ontem que quase a metade dos congressistas processados no escândalo da parapolítica eram da Costa Atlântica. Departamentos da região, como Sucre e Córdoba, chegaram a ficar sem representação no Congresso, recuperada graças à diplomação dos terceiros colocados nas eleições legislativas de 14 de março. O jornal atribui a votação do candidato presidencial do Polo Democrático, Gustavo Petro, na eleição do último domingo ¿ Petro saiu-se bem melhor que o previsto nas pesquisas ¿, ao fato de ele ter sido um dos congressistas que começaram a denunciar os nexos de políticos governistas com os paramilitares.