Título: Para garantir governabilidade de Dilma, Lula foca o Senado em 2010
Autor: Costa , Raymundo
Fonte: Valor Econômico, 13/07/2009, Política, p. A8

Em vez de um grande número de governadores, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva trabalha para que o PT e a base aliada elejam maioria estável no Senado. Na lista de prioridades do presidente estão a eleição da ministra Dima Rousseff (Casa Civil), em primeiro lugar, de parlamentares aliados para o Senado e a Câmara, nessa ordem, e os governadores estaduais. A diretriz de Lula sofre a oposição dos candidatos petistas a governador, que têm reclamado do chefe nos bastidores do partido.

Em conversa recente com amigo petista, Lula explicou suas razões. No exercício do cargo, o presidente, segundo o interlocutor, observou os partidos terem preocupação muito grande com a eleição de governadores que já não teriam mais a mesma - para não dizer nenhuma - importância que em outros períodos da República. A não ser o eventual controle da bancada de deputados.

A razão dessa perda de importância seria o capítulo da ordem tributária da Constituição de 1988, que concentrou os impostos no cofre da União. Curiosamente, o relator deste capítulo foi o então deputado e atual governador de São Paulo, José Serra, potencial candidato do PSDB à sucessão de Lula. Hoje, os governadores dependem da União e não é à toa que os eleitos pela oposição passem o mandato tentando manter boas relações ou correndo atrás do presidente, com o chapéu na mão.

No exercício dos dois mandatos, Lula não tardou a compreender o seguinte: é mais fácil negociar com a Câmara, ainda que os deputados sejam muito mais numerosos. Também é maior o número de partidos com assento na Casa. Além dos cargos na administração federal, o presidente também dispõe do poder de liberar emendas parlamentares ao Orçamento, sempre um bom instrumento de barganha na hora de votar projetos de interesse do governo.

Já a conversa com os senadores é bem mais difícil e tortuosa. Na conversa que teve com o petista amigo da Constituinte, frequentemente acionado para missões políticas sigilosas (conversas com a oposição sobre a CPI da Petrobras, por exemplo), Lula chegou a afirmar que, se a proporção oposição-base aliada atual se invertesse, ainda assim seria mais fácil negociar com a Câmara a aprovação de medidas - e o governo é amplamente majoritário entre os deputados, mas no Senado a margem de segurança é bem pequena.

Desde o primeiro mandato, o Senado, dominado pelo PMDB, tem sido fonte permanente de problemas para Lula. Do Senado das CPIs e rejeição de indicações presidenciais para agências reguladoras, ao Senado do aliado incômodo dos dias de hoje, o presidente da Casa, José Sarney, que tanto pode criar dificuldades como resolvê-las para o governo. O governo é majoritário, mas trata-se de maioria instável, sempre sujeita ao humor da maior bancada, o PMDB.

Preocupa o PT o fato de Dilma estar crescendo não por si mesma, mas pelo carisma e popularidade de Lula. A ministra da Casa Civil não tem simpatia, tem fama de não tratar bem as pessoas, nem de longe pode ser considerada carismática como Lula e lhe falta experiência política. Enfim, uma completa falta de atributos para lidar com as complexas negociações com o Congresso, particularmente com o Senado.

Mas Lula está convencido de que vai elegê-la. E entende que ela vai precisar de maioria no Senado para dar estabilidade a seu governo. Para a continuidade do projeto do PT, portanto, as eleições para o Legislativo deveriam ser mais importantes do que as de governador. Já para o PMDB as eleições estaduais são fundamentais - é nos Estados que reside a força do partido que passou a ser quase sinônimo de federação.

O problema é que o PT tem candidatos que considera fortes na maioria dos Estados reivindicados pelo PMDB para a coligação nacional com Dilma na cabeça de chapa. Lula vai entrar em campo para dissuadir pré-candidatos do PT, como o prefeito de Nova Iguaçu (RJ), Lindberg Farias, que quer desafiar o governador Sérgio Cabral, aliado de primeira hora e um de seus esteios no PMDB.

O ministro Tarso Genro é pré-candidato no Rio Grande do Sul. O PMDB deve ir de José Fogaça, prefeito da capital, ou lançar o ex-governador Germano Rigotto. É um lugar difícil para Lula intervir. Mas a oposição gaúcha não se entende e pode abrir brecha para sua arbitragem. O Sul era território pemedebista e petista, mas a divisão da oposição abriu espaço à eleição da governadora Ieda Crusius (PSDB) em 2006.

Em Minas Gerais o adversário do PT é o PSDB. O partido tem dois candidatos fortes - Patrus Ananias, ministro do Bolsa Família, e o ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel. É no petismo mineiro também que começam a se manifestar sinais de insatisfação com a subordinação das escolhas políticas do PT aos interesses do PMDB. Os pemedebistas têm um candidato que é considerado competitivo, o ministro Hélio Costa (Comunicações) e reivindicam o apoio formal do PT.

São Paulo é visto como caso perdido, apesar do reconhecimento de terreno que está sendo feito por Ciro Gomes. O "encanto" com Ciro passou há muito tempo, segundo auxiliares do presidente, mas ele pode mesmo ser candidato de uma frente partidária (cada sigla escolheria um nome e negociaria com as outras, depois. Na hipótese de Ciro ter-se viabilizado, seria ungido pelos demais, quer dizer, por Lula).

Com a demora do Supremo Tribunal Federal em julgar se aceita ou não a denúncia do Ministério Público por quebra de sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa, o ex-ministro Antonio Palocci a cada dia deixa de ser alternativa em São Paulo. Mas Lula já comentou que pode levá-lo para a Pasta das Relações Institucionais, quando o ministro José Múcio for para o Tribunal de Contas da União (TCU). E no próximo governo Dilma ocuparia a Casa Civil para dar a maleabilidade política que ninguém vê na "durona" Dilma.