Título: Consumidor livre quer comprar energia de Itaipu
Autor: Leo , Sergio
Fonte: Valor Econômico, 27/07/2009, Brasil, p. A3

Por US$ 50 o megawatt hora, que bem negociados poderiam chegar a US$ 55, os grandes consumidores livres de energia fechariam hoje mesmo negócio com o Paraguai se a energia de Itaipu já estivesse disponível para o mercado livre brasileiro. Fariam contratos de longo prazo, atrelados ao dólar, e dispostos a pagar preços que representam um ágio de até 20% no valor pago pela Eletrobrás.

A sondagem foi feita pela Associação Brasileira de Grandes Consumidores de Energia (Abrace) entre seus associados, segundo o presidente Ricardo Lima, e dá o tom da competição que a energia paraguaia tende a trazer para as grandes geradoras de energia, que hoje comercializam boa parte de seus contratos no mercado livre.

De imediato, um dos maiores prejudicados seria a concessionária Energia Sustentável, dona da usina de Jirau. A empresa ainda não vendeu os 30% da energia que será destinada ao mercado livre, segundo informou em entrevista ao Valor no início de julho o presidente da concessionária Victor Paranhos. Nos leilões das usinas do Madeira, o baixo preço para o mercado cativo foi firmado em função dos ganhos vislumbrados com o mercado livre. Na época da disputa não se pensava na possibilidade de a energia de Itaipu ser uma competidora.

E essa energia chegaria ao mercado livre em um cenário de sobra, em função da crise, e diante da previsão de equilíbrio energético para os próximos anos. Esse foi um dos principais motivos que já levou os preços de longo prazo caírem da média de R$ 150, registrados no ano passado, para R$ 130 neste ano. Nem mesmo a usina de Santo Antônio, que fechou contrato com a Cemig no início do ano conseguiu ultrapassar os R$ 140.

A Associação Brasileira das Geradoras (Abrage), que reúne nomes como Cemig, Tractebel, Duke Energy, defende que qualquer proposta de abertura do mercado livre à energia de Itaipu seja amplamente discutida com os agentes. "É um bloco de energia muito grande para um mercado relativamente pequeno", diz Flávio Neiva, presidente da Abrage. "Como consequência, teríamos a dificuldade da entrada de novas usinas e inviabilizaria as existentes". Mesmo com a previsão de que essa energia entre gradualmente, Neiva lembra que um dia toda ela estará no mercado livre. O total da energia assegurada do Paraguai gira em torno de 4 mil MW médios.

Se por um lado, a entrada desses megawatts preocupa os grandes geradores, por outro lado os comercializadores já vislumbram uma grande oportunidade: a de que o mercado livre finalmente comece a ganhar espaço. Atualmente esse mercado representa cerca de 25% do total da energia consumida no país.

O vice-presidente da CPFL Energia, Paulo Cezar Tavares, diz que o ponto importante dessa negociação entre Brasil e Paraguai é que no longo prazo haja a certeza de que essa energia ficará no país. Se essa condição estiver assegurada, em sua avaliação, não haverá grandes impactos com a permissão para que o Paraguai venda livremente sua cota de Itaipu.

Segundo Tavares, o regulador tem a prerrogativa de abrir o mercado livre para novos consumidores, sem necessidade de alterar leis. Com uma migração não só da energia (pois Itaipu supre o mercado cativo), mas também de consumidores, haveria equilíbrio entre oferta e demanda. Uma das alterações poderia ser a de permitir, por exemplo, a entrada de consumidores de até 500 kilowatts que hoje só podem comprar energia incentivada. Uma super-oferta no mercado livre, que derrubaria os preços, não interessa a ninguém. Nem ao Paraguai que hoje possui um contrato fixo com a Eletrobrás, estimado em torno de US$ 45.

O diretor-geral da Enertrade (comercializadora da EDP), Renato Volponi, concorda que essa é uma oportunidade para fortalecer o mercado livre. Mas ele teme um anti-mercado, que seria criado com a oferta para o livre sem a migração de consumidores do mercado cativo. Ele lembra ainda que é preciso alterar a lei para autorizar a venda paraguaia e por isso não acredita que essa energia chegue ao mercado livre neste ano.