Título: Grupo de Genro vai ter candidato
Autor: Lyra , Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 27/07/2009, Política, p. A7

A corrente do PT Mensagem ao Partido vai lançar o deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP) como candidato à presidência da legenda. Cardozo disputará com o ex-presidente da Petrobras, José Eduardo Dutra, que conta com o apoio das principais facções do PT. O lançamento da candidatura do deputado frustra os planos da direção petista e do governo, que pretendiam uma eleição de consenso, impedindo gastos desnecessários de energia em disputas internas e reservando esforços para a consolidação da candidatura de Dilma Rousseff à presidência em 2010.

O ministro da Justiça, Tarso Genro, que é uma das maiores lideranças da Mensagem ao Partido, confirma a escolha de Cardozo e argumenta que o único nome de consenso na legenda era o do chefe do gabinete pessoal do presidente Lula, Gilberto Carvalho. "Além de ser uma figura extremamente doce, Gilberto, pela proximidade e pela função que exerce no governo, é visto como uma extensão do próprio Lula", disse o ministro da Justiça. "Ninguém seria insano de contrapor-se ao nome dele". Sem Carvalho, todas as tendências do PT sentem-se livres para lançar candidatos.

Lula vetou a candidatura de Gilberto Carvalho. O presidente já deve perder Dilma Rousseff, que terá que desincompatibilizar-se em abril de 2010 para concorrer à presidência da República, e não quis abrir mão de um de seus mais próximos colaboradores. O presidente lembrou que, em 2007, cedeu às pressões do partido e liberou o assessor para assuntos internacionais, Marco Aurélio Garcia, para disputar a presidência do PT. "Eles queimaram o Marco Aurélio, agora que se virem para construir um nome novo", respondeu o presidente, segundo relato de ministros ouvidos pelo Valor.

A escolha, assim, recaiu sobre José Eduardo Dutra, ex-senador por Sergipe, ex-presidente da Petrobras e da BR Distribuidora. Muito amigo do governador de Sergipe, Marcelo Déda, Dutra aceitou o desafio e hoje conta com o apoio do antigo Campo Majoritário, Construindo um Novo Brasil (CNB); Novos Rumos e PT de Lutas e de Massas. "Sem dúvida, é um nome que merece todo o nosso respeito. Mas nos achamos no direito de lançar um nome do nosso grupo", completou Genro.

O presidente nacional do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), reconhece que será inevitável uma disputa interna no partido, mas torce para que ela não seja traumática. Pelos seus cálculos, se Gilberto fosse candidato, a seis meses das eleições internas ele contaria com um apoio de 80% da legenda. "Pelas próprias funções que exerce junto ao presidente Lula, Gilberto conquistou um status de candidatura suprapartidária, acima de qualquer uma de nossas tendências", declarou.

Já o caso de Dutra é diferente. Para Berzoini, apesar de ter o apoio do antigo Campo Majoritário, ele terá que construir este consenso em torno de seu nome. E isso Dutra já começou a fazer. Não é raro vê-lo em busca de apoio entre os seus correligionários, seja em visitas ao Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), onde o presidente Lula despacha, seja marcando conversas com lideranças no Congresso. "Ele tem o apoio do presidente Lula, da ministra Dilma e dos principais nomes do partido. Só precisamos esperar para ver qual será a resposta da base do partido, de nossa militância", disse o líder do PT na Câmara, Cândido Vaccarezza (SP).

Berzoini espera que a disputa interna não gere sequelas posteriores. Ele próprio concorreu em 2005 e 2007 e disse que, passado o pleito, as correntes se uniram novamente. O temor de alguns petistas é de que os traumas de uma disputa paralisem a legenda, fazendo com que a energia que deveria ser canalizada para a candidatura Dilma seja utilizada para reaproximar as correntes derrotadas.

O presidente do PT avalia que o atual momento da legenda é de paz interna. "Estamos consolidando algumas decisões do último Congresso, como a formação da escola de militância e o fortalecimento da juventude petista. Por enquanto, tudo baseado no consenso", garantiu Berzoini.