Título: De perfil técnico, novo presidente da Infraero é fiel a Jobim
Autor: Rittner , Daniel
Fonte: Valor Econômico, 27/07/2009, Especial, p. A12

O engenheiro em telecomunicações Murilo Marques Barbosa, cuja indicação para a presidência da Infraero foi aprovada pela Casa Civil, deverá assumir o cargo em agosto, com a tarefa de dar andamento ao plano de reestruturação da estatal e alinhá-la às políticas do governo, que ainda pensa em fazer as concessões dos aeroportos do Galeão (Rio) e de Viracopos (Campinas) até o fim de 2010. Ele precisará enfrentar a resistência dos funcionários, que até criaram uma associação para lutar contra as concessões, e evitar as ofensivas políticas para recuperar cargos de apadrinhados.

O atual presidente, brigadeiro Cleonilson Nicácio, volta aos quadros da FAB depois de cumprir o período máximo de dois anos de licença. De perfil estritamente técnico, Barbosa é um raro sobrevivente de quatro gestões diferentes no Ministério da Defesa. Chegou à pasta no início do governo, quando estava sob o comando do diplomata José Viegas. Na época, Viegas procurava um especialista em assuntos relacionados a eletrônica, ciência e tecnologia. Acharam-no na Presidência da República, onde atuava na área de informática.

Barbosa fez diversos cursos de especialização - segurança das comunicações, comunicações por satélite e gestão de recursos de defesa. Transformado em assessor especial no ministério, aprofundou-se em um tema: tecnologias empregadas em guerras eletrônicas. Isso lhe propiciou trânsito livre na FAB. Ainda na gestão de Viegas, participou da elaboração do primeiro plano - engavetado - de reaparelhamento das Forças Armadas. Ficou apagado quando o vice-presidente José Alencar assumiu a pasta, em 2004. Alencar pouco aparecia na Defesa, que perdeu importância para os comandantes militares.

Foi na chegada de Waldir Pires, em 2006, que o engenheiro ampliou seu espaço. Ganhou a confiança do ministro e aumentou suas atribuições no ministério. Com a crise aérea, que eclodiu no acidente da Gol e acentuou-se com a tragédia da TAM em Congonhas, Barbosa entrou no núcleo de discussões sobre a aviação civil. Não tinha poder decisório, mas acompanhava as reuniões e participou dos encontros de Pires com os sargentos que lideraram o motim de março de 2007. Essas reuniões provocaram insatisfação no Alto Comando da Aeronáutica, que queria o enquadramento dos controladores em vez de negociação.

Atuando nos bastidores, Barbosa foi poupado do festival de demissões e renúncias coordenado pelo ministro Nelson Jobim quando chegou ao cargo, em meio ao caos aéreo. Jobim removeu o presidente da Infraero e toda a diretoria da Anac, mas preservou alguns assessores diretos de Pires, incluindo Barbosa. Seus ouvidos ainda ardem com as críticas de ex-colegas, que o condenam por supostamente mudar de opinião conforme o entra-e-sai de ministros.

Eficaz e obediente no cumprimento de ordens, o engenheiro se firmou como chefe de gabinete de Jobim. Pela estrutura do ministério, o único da Esplanada que não tem secretário-executivo, todos os assuntos da pasta passam por Barbosa. Dizem que é de fidelidade canina aos chefes. Poucos sabem quais são suas reais opiniões sobre concessões aeroportuárias e abertura de capital da empresa, mas todos apostam que ele seguirá à risca as orientações de Jobim. (DR)