Título: Conselheiros acusam Lupi de fazer pressão por seu candidato à presidência do Codefat
Autor: Galvão , Arnaldo
Fonte: Valor Econômico, 28/07/2009, Brasil, p. A2

O Conselho Deliberativo do Fundo de Amparo ao Trabalhador (Codefat) escolhe hoje o nome do seu próximo presidente. A eleição ocorrerá em clima tenso, porque o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, estaria pressionando os 18 conselheiros a votarem em Luigi Nese, presidente da Confederação Nacional de Serviços (CNS). Vários conselheiros consultados pelo Valor confirmaram que Lupi está de fato pedindo votos para Nese. A assessoria do ministro negou.

A postura de Lupi rompeu um acordo que vigora desde a criação do conselho, em 1990, segundo o qual as três bancadas paritárias - trabalhadores, governo e empregadores - indicam nomes, sucessivamente, para a sua presidência. O Codefat tem uma forte influência sobre os destinos de recursos do FAT, cujo patrimônio este ano é estimado em R$ 158,35 bilhões.

O objetivo de Lupi, segundo fontes envolvidas no processo eleitoral, seria impor uma derrota à senadora Kátia Abreu (DEM-TO), presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Conselheiros ouvidos pelo Valor avaliam que Lupi teria tomado como uma derrota pessoal o fato de não ter conseguido apoio da Casa Civil para mudar as regras do Codefat, a fim de deixar o ministro do Trabalho como presidente permanente do conselho, tal como ocorre como Conselho Curador do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). Das seis entidades patronais que ocupam assento no conselho, quatro teriam trabalhado nos bastidores contra os planos de Lupi, preservando o rodízio (as confederações nacionais da Agricultura, da Indústria, do Comércio e do Sistema Financeiro).

A senadora disse que o que está ocorrendo na eleição para a presidência do Codefat é um "golpe escandaloso". Ela não acredita que as bancadas do governo e dos trabalhadores não vão seguir a orientação de Lupi. "O ministro do Trabalho não se conforma em não presidir o Codefat e quer um retrocesso", criticou Kátia Abreu.

Na avaliação dos conselheiros, o placar do pleito de hoje deve dar 14 votos a favor de Nese e apenas 4 votos para Fernando Antonio Rodriguez, candidato defendido pela CNA, que, pelo sistema de rodízio, é quem teria o direito a ocupar o cargo desta vez. Mas a senadora discorda desse prognóstico.

Kátia Abreu confirma que Lupi pediu votos a todos os representantes das três bancadas, inclusive aos patronais. "Ainda tenho esperança no respeito ao rodízio que garante convivência harmoniosa no conselho. O Lupi não é o governo", afirma.

Rodriguez conta com o apoio da CNA, CNC, CNI e Consif e, segundo a sequência do rodízio previsto no acordo, seria aclamado presidente hoje. Mas a atitude de Lupi deu clima de disputa acirrada nos bastidores do Codefat. Há quem tema, inclusive, o risco de uma ruptura mais séria caso Nese seja eleito, como a possibilidade dessas quatro confederações que apoiam Rodriguez abandonarem o Codefat. Outros conselheiros acham que esse risco é mais um blefe, porque, pior que perder a eleição, seria abrir mão do poder e da representação no conselho.

O Decreto 6.827, de 22 de abril de 2009, tratou das composições dos conselhos do FAT e do FGTS e, no parágrafo 3º do artigo 1º , estabeleceu que a presidência do Codefat, eleita a cada dois anos por maioria absoluta, será alternada entre as representações dos trabalhadores, dos empregadores e do governo, e exercida pelo representante do Ministério do Trabalho e Emprego quando a representação couber ao governo.

Segundo a versão da senadora do DEM, Lupi quer eleger um representante "fiel" da bancada dos empregadores. Dessa maneira, estaria respeitando o decreto, mas, ao mesmo tempo, controlaria a presidência. "O presidente da CNS, Luigi Nese, obedece cegamente ao ministro do Trabalho", disse ela.

O presidente da CNA revela que, em jantar promovido pela entidade em 30 de junho, representantes das seis confederações de empregadores concordaram em apoiar o nome de Fernando Antonio Rodriguez. Para ela, o perfil do escolhido é técnico e ele já foi vice-reitor da Universidade Federal de Viçosa (MG) e secretário da Agricultura em Minas Gerais. O problema, de acordo com a senadora, é que, após serem pressionados por Lupi, Nese (CNS) e o representante da Confederação Nacional do Turismo (CNTur) recuaram.

Nese negou essa versão e disse que sua candidatura foi lançada em abril, tão logo tomou posse no Codefat. Ele também contestou as acusações de estar sendo usado pelo ministro e afirmou que tem independência em relação a Carlos Lupi.

Apesar do patrimônio de R$ 158,35 bilhões, a perspectiva fiscal do FAT é ruim. Há previsão de déficit operacional de R$ 7,87 bilhões para 2010, de acordo com a proposta de orçamento aprovada recentemente pelo Codefat. Essa é a diferença entre as previsões de arrecadação de R$ 35,18 bilhões e despesas de R$ 43,06 bilhões para 2010.