Título: Papel do gasto público na crise divide opiniões
Autor: Lamucci, Sergio
Fonte: Valor Econômico, 28/07/2009, Especial, p. A14
O aumento expressivo dos gastos do governo federal de janeiro a maio reacendeu o debate sobre a política fiscal no Brasil. O economista-chefe da corretora Convenção, Fernando Montero, vê com preocupação a expansão de despesas correntes, apontando o impacto negativo sobre as perspectivas futuras de crescimento. Já o diretor-geral do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), João Saboia, salienta a importância da redução de impostos e da alta de gastos públicos para impedir uma desaceleração mais acentuada do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano, acreditando que a política fiscal não limita o potencial de avanço da economia. O resultado fiscal da União de junho será divulgado hoje.
Ex-secretário-adjunto de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Montero diz que há espaço para aumento de gastos neste ano, mas "evidentemente não para toda a elevação de despesas programadas". "O Planejamento precisa fazer cada vez mais acrobacias para não contingenciar despesas." Para ele, a política fiscal teve um peso importante para evitar uma retração mais forte da atividade econômica na primeira metade do ano, mas resiste a qualificá-la como anticíclica. "A política fiscal expansionista já estava contratada; a crise a tornou anticíclica", afirma. "Simplesmente não se puxa a economia da recessão aumentando salários do funcionalismo em aumentos escalonados por anos."
Saboia diz que gastos como os salários dos servidores públicos de fato se tornam definitivos, preferindo que o governo privilegie os investimentos em vez dos gastos correntes. Ainda assim, diz não ver "ameaça ao futuro do país por conta da política fiscal".
"Não tenho nenhuma dúvida de que a política fiscal implementada no primeiro trimestre foi o principal responsável pelo fato de o país ter sofrido relativamente pouco, comparado com o resto do mundo", avalia. Para Saboia, com as perspectivas mais favoráveis no segundo semestre, "o governo deverá aos poucos reduzir os estímulos fiscais do primeiro semestre, especialmente na área tributária".
Na questão da solvência do setor público, as opiniões dos dois economistas se aproximam. Montero diz que "basta assumir algumas hipóteses razoáveis de crescimento e de juros para redimensionar riscos". Saboia observa que, como os juros caíram bastante, "é possível ter superávits primários bem menores, e o mercado entendeu isso". A seguir, os principais trechos das entrevistas.