Título: Chuvas reduzem custo extra de geração
Autor: Santos , Chico
Fonte: Valor Econômico, 28/07/2009, Brasil, p. A3

Os custos adicionais para o consumidor de energia elétrica em decorrência de ligações extras, de usinas termelétricas para prevenir riscos de déficit, ficarão este ano bem abaixo do previsto, atingindo, no máximo, R$ 300 milhões e, no mínimo, os R$ 100 milhões já gastos. No ano passado esses custos de geração complementar somaram R$ 2,3 bilhões e no começo de maio deste ano o Operador Nacional do sistema Elétrico (ONS) previu que seriam necessários R$ 800 milhões adicionais somente para suprir a Região Sul, que vivia forte estiagem.

"Este ano tivemos condições muito boas da hidrologia em todas as regiões. Os rios Tocantins (Norte), São Francisco (Nordeste) e Paranaíba-Grande (Sudeste/Centro-Oeste) estiveram sempre acima da média, tanto no período úmido como no seco", disse ao Valor o diretor-geral do ONS, Hermes Chipp. As preocupações estavam concentradas na Região Sul, porque em abril o afluxo de água para seus principais sistemas estavam em apenas 22% da média, o terceiro pior resultado da história.

No fim de abril os reservatórios da Região Sul estavam a 38,55% da capacidade e em declínio. O ONS começou então a transferir para lá, de outras regiões, energia equivalente a 5 mil megawatts médios. Essa carga foi reduzida na segunda metade de junho porque a curva da hidrologia já havia se invertido. Atualmente, segundo dados do ONS, a afluência de água para os reservatórios do Sul está em 113% da média histórica.

A normalização da hidrologia no Sul do país já havia sido prevista pelo Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (CPTEC/Inpe). Segundo Chipp, a instituição havia dito que 2009 começaria sob influência do fenômeno La Niña, que esfria as águas do Oceano Pacífico e esquenta as do Atlântico, provocando, entre outras alterações, seca na Região Sul, mas que em junho passaria a predominar o fenômeno inverso, El Niño, que esfria as águas do Atlântico e aquece as do Pacífico, favorecendo a ocorrência de chuvas no sul do Brasil.

"O CPTEC já havia acertado em 2007, quando todo mundo estava aflito e ele previu que as chuvas viriam em janeiro. E elas vieram", disse. Agora em julho, os dados do ONS mostram que em todas as quatro regiões nas quais o Brasil é dividido para efeito de sistema elétrico os níveis dos reservatórios estão superiores ao que estavam em julho do ano passado. E a Região Sul já mostra a melhor situação entre todas elas, com números 20,6% melhores, segundo os dados do último dia 26. Em maio deste ano os reservatórios estavam 41,13% abaixo do armazenamento do mesmo mês de 2008.

Diante do quadro favorável, Chipp projeta três cenários possíveis para os gastos complementares com geração térmica. No cenário otimista, o país não gastará nada mais do que os R$ 100 milhões gastos até agora. Em um cenário intermediário, esses gastos poderão chegar a R$ 200 milhões, e em um cenário conservador eles alcançariam R$ 300 milhões no período de dezembro de 2008 a novembro deste ano.

Chipp é do ponto de vista que mesmo os R$ 2,3 bilhões gastos de dezembro de 2007 a novembro de 2008 não representam um valor elevado. "Nós achamos que é um valor muito baixo para termos esse seguro", pondera. O diretor do ONS destaca que o Tribunal de Contas da União (TCU) estimou recentemente que o apagão de 2001 custou ao país R$ 45 bilhões, apenas computando os custos diretos.

Chipp disse que prefere calcular as perdas como proporção do Produto Interno Bruto (PIB) que teriam ficado em 2%, ou algo próximo a R$ 60 bilhões a preços de 2008, considerando os R$ 2,9 trilhões do PIB do ano passado. Incluindo os custos indiretos, Chipp avalia que as perdas alcançaram R$ 100 bilhões, ou seja, o "seguro" de 2007-2008 teria sido de pouco mais de 2% das perdas de 2001.