Título: Aécio e Dilma dividem apoio da Força Sindical em 2010, diz Paulinho
Autor: Junqueira , Caio
Fonte: Valor Econômico, 30/07/2009, Política, p. A8

Unido pela primeira vez na reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o movimento sindical pode voltar a se dividir em 2010 caso o governador de Minas Gerais, Aécio Neves, seja o escolhido pelo PSDB para disputar a Presidência da República. Nesse caso, a Força Sindical, segunda maior entidade do setor no país, apoiaria o mineiro, enquanto a Central Única dos Trabalhadores (CUT), estaria ao lado da candidata do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff.

Para o presidente da Força, deputado federal Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), é grande a chance de que isso ocorra. "A Dilma está subindo muito antes da hora e o [José] Serra [governador de São Paulo que disputa com Aécio a indicação do PSDB à candidatura à Presidência], caindo. Se o Serra continuar caindo muito, ele vai desistir da disputa e o Aécio pode acabar vir a ser o candidato do PSDB, com o nosso apoio", disse ao Valor, depois da cerimônia que abriu o 6 Congresso da agremiação, em Praia Grande, litoral sul paulista.

Prestigiaram o evento os ministros José Pimentel (Previdência), Carlos Lupi (Trabalho) e Luiz Dulci (Secretaria Geral), os deputados federais paulistas Márcio França (PSB), José Aníbal (PSDB) e José Genoino (PT). Segundo Paulinho, a assessoria do Palácio dos Bandeirantes telefonou a ele dizendo que Serra não viria nem mandaria representantes. Aécio chegou a sobrevoar a cidade, mas o mau tempo não permitiu que a aeronave pousasse.

O ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB), atual secretário de Desenvolvimento de Serra, estava confirmado no evento até a véspera, mas acabou não vindo. Alckmin, ao contrário de Serra, tem bom relacionamento com o movimento sindical paulista e Paulinho da Força costuma apoiá-lo em eleições.

Para Melquíades Araújo, vice-presidente da Força e filiado ao PSDB, a ausência do governador pode prejudicar seus interesses políticos. "Não existe social-democracia sem o movimento sindical. Esse está sendo o pecado do Serra: não está abraçando o movimento sindical nem mesmo dentro do próprio partido", afirmou. "O PSDB tem sido contra todos os projetos que nos interessam, tem feito oposição ao governo federal e também a nós".

O líder do PSDB na Câmara, José Aníbal, compôs a Mesa que abriu o congresso e se colocou a favor da redução da jornada. Aníbal é pré-candidato do PSDB ao Senado e atua como uma das pontes do governador mineiro junto à bancada tucana.

No caso de Serra ser o candidato do PSDB, as duas maiores centrais sindicais brasileiras devem repetir a união ocorrida em 2006 e ficar ao lado de Dilma contra o governador paulista. No entanto, essa posição pode não ser unânime. A entidade não fecha questão sobre seus apoios políticos e libera seus integrantes para apoiar quem quiserem.

Nas últimas eleições presidenciais, por exemplo, químicos, gráficos aposentados, parte dos comerciários e a direção nacional da central apoiaram Lula, enquanto o setor paulista de alimentação e parte dos metalúrgicos ficaram com Alckmin.

Dirigentes da Força avaliam que houve avanços para os trabalhadores no governo Lula, o que deve fazer com que a maioria da entidade apoie Dilma. São citados a efetivação de uma política de valorização do salário mínimo e o reconhecimento das centrais sindicais. Isso acabou por levar as duas centrais para o mesmo espectro político-ideológico. "O Fórum Nacional do Trabalho criado a partir de 2003 pôs na mesa todas as centrais sindicais e patronais. Isso uniu as principais centrais em torno das bandeiras e afastou as diferenças partidárias que elas tinham", afirma Sérgio Leite, primeiro-secretário nacional da Força.

A divisão da Força no caso de uma candidatura Aécio a presidente pode acontecer também em alguns Estados. É o caso de São Paulo, na eventualidade de o deputado federal Ciro Gomes (PSB-CE) ser candidato ao Palácio dos Bandeirantes. Ciro tem bom trânsito junto à Força. Paulinho foi seu candidato a vice na disputa presidencial de 2002. Em São Paulo, a entidade se dividiria entre Ciro e Alckmin. Por outro lado, nesse cenário, a CUT estaria com Ciro, por entender que ele seria o candidato de Lula, numa coligação que envolvesse PT, PCdoB, PDT e PSB. No Paraná, a Força está praticamente fechada com o governador Roberto Requião (PMDB). No Rio Grande do Sul, a Força tem retirado o apoio que deu à governadora Yeda Crusius (PSDB).

Enquanto as convenções partidárias previstas para o primeiro semestre de 2010 não chegam, a Força mapeia politicamente seus próprios filiados e os parlamentares. Duas pesquisas estão sendo preparadas e serão peça-chave no quadro de apoios em 2010.

Uma delas será um mapa com o posicionamento de todos os parlamentares sobre a principal reivindicação da classe atualmente, a redução da jornada salarial para 40 horas. A outra é sobre o perfil político dos seus 4 mil delegados, que representam mais de 10 milhões de trabalhadores dos 1,2 mil sindicatos associados. Na única pesquisa do gênero feita em 1991, 60% dos integrantes da Força eram simpáticos ao PT.

A central determinou que todos os sindicatos do país se reúnam com os deputados federais que atuem em suas regiões para pressionar pela votação.

"Ano que vem é época de eleição e num primeiro mandato estou recomendando a não ir a Brasília diretamente esculhambar os parlamentares. É preciso convencê-los da proposta. Aí sim, se eles não votarem em nós poderemos esculhambar eles", disse Paulinho, no seu discurso.

Além da redução da jornada, as outras bandeiras que vão entrar na negociação do apoio político em 2010 são a nova fórmula do salário mínimo, atrelada ao crescimento do PIB e da inflação; o aumento real das aposentadorias, a ratificação das convenções da Organização Internacional do Trabalho 158 (legislação que prevê garantias contra demissões imotivadas) e 151 (legislação sobre direitos de negociação coletiva).